Entre as personalidades que mais impressionaram e fascinaram as classes desprotegidas do Brasil, tornando-se temática da poesia popular, que sempre, instintivamente, procurou servir o seu mercado imediato. Getúlio Vargas foi, sem duvida, uma das maiores. Somente o padre Cícero inspirou número maior de folhetes. Nem Antonio Silvino nem lampião, com o seu apelo sempre renovado pela exploração do cinema, deram a produção literária maior. A de Getúlio é dez vezes superior, pelo menos. Certamente os folhetos e romances sobre os dois cangaceiros durarão mais tempo. É natural. São bandoleiros. A estória dos bandoleiros exerce um enorme fascínio sobre a imaginação popular. O português José Telhado viveu e matou há mais de cem anos. Mas ainda hoje suas façanhas são reeditadas e lidas no Brasil.
Em sua época, porém, e muitos anos depois de sua morte, Getúlio Vargas foi o tema de maior venda e de maior aceitação entre os humildes consumidores do cordel.
Orígenes Lessa
Abaixo alguns cordéis editados no livro “ Getúlio Vargas na literatrura de cordel ‘‘ de autoria de Orígenes Lessa”.
O que há de mais importante
Na vida do presidente
É que ele tudo resolve
Com um sorriso calmamente
Livrando sempre o Brasil
Da infame guerra civil
Que apavora a nossa gente.
Parte de um cordel de Athayde
A 24 de agosto
Quando o dia amanheceu
Um negro manto cobriu
Ligeiro o sol se escondeu
O mundo em peso chorou
Quando a notícia vagou
Getúlio Vargas morreu
Trecho do cordel - A chegada de Getúlio Vargas ao céu do cordelista Minervino.
No dia em que Getúlio Vargas
No Rio se suicidou
Houve silêncio na terra
O mundo todo mudou
O vento ficou parado
O firmamento nublado
Até a chuva estiou.
Do poeta e cordelista Rodolfo: parte do cordel - O julgamento de Getúlio no céu.