Analisando a música “Olhai por nós” ( Marcelo Crivella ), percebi que ainda conservamos muitos traços da educação medieval, principalmente no que se refere a forma de contestar o que nos é repassado com verdade.
O homem medieval não tinha concepção crítica, por não ser educado para isso. Isto não quer dizer que houvesse desprezo pelo intelecto, mas sim , era uma forma de conciliar ou harmonizar a fé e a razão, a fim de se compreender a natureza de Deus, o teocêntrismo que não podia ser questionado.
Segundo Santo Agostinho, na teoria da iluminação: “ o conhecimento da verdade eterna seria recebido de deus. Deus ilumina a razão e torna possível o entendimento, isto é, toda educação.”
Na 3ª estrofe, aparece tipicamente nítida a forma de educação escolástica e teocêntrica. A idéia de que o homem não pode conceber o progresso individual e coletivo, se não tiver antes de tudo pautado na vontade de Deus. (“ quem governa sem fé, pouco pode fazer “). Deus é quem provém tudo. Portanto, se alguém está no poder e não realiza um bom governo, é porque não o faz segundo as leis de Deus.
Para o homem de fé, todas as dificuldades serão ultrapassadas, desde que seu caminho encontre a bênção de Deus.
Vimos que o homem medieval era extremamente religioso. Todavia, essa religiosidade não era consciente. Seria como um instrumento de alienação e manutenção dos dogmas religiosos da época. Não havia preocupação com as questões sociais, como as observadas na música : “ Meu Deus, o que se passa aqui no meu país?/ há tanta gente sofrendo” . No trecho acima, deus tem as respostas para tudo e pode nos conceder a força necessária para superar as dificuldades. Há o questionamento direcionado a Deus, mas não ao homem. Como se esse não fosse capaz de trilhar seus próprios passos.
Existe na 5ª estrofe uma profunda emotividade sentimental e religiosa que toca o íntimo das pessoas: “ Vem meu Senhor/ Vem , Jesus Salvador/ Olhai a dor, Senhor/ Desse meu irmão/ Tem compaixão/ Estende a tua mão/ Olhai por nós”.
Esse tipo de educação era feita na Idade Média por meio da repetição de cânticos e nas aulas de catecismo, como acontece nos dias de hoje. Desse forma, a letra, ora analisada tem relação direta com as linhas filosóficas Patrística e Escolástica, pois , a concepção da formação do homem, perpassa pela religiosidade, marcante na Idade Média, onde a fé e a crença são fundamentais para o homem viver em paz consigo mesmo e com Deus.