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Artigos-->Eu li... -- 26/04/2001 - 11:08 (Bruno Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu li tudo o que tinha para ler, e se não li mais nada, foi por pura preguiça e não por falta de visão. Tenho andado muito fora de controle, mas se digo que não comi e nem dormi, é mentira, pois, em minha falta de controle reside a mentira deslavada e ainda suja de lama da noite anterior. Peço encarecidamente que não me levem a sério, porque devo estar dissimulando um sorriso, e também não me procurem, pois, devo estar ficando meio louco, mas não me dêm ouvidos, apenas tranquem-me na sala, no banheiro, ou na cozinha, já não faz mais diferença. Deixem-me imóvel como uma estátua, mas deixem-me só. Não quero nada, nem mesmo um livro prá ler no banheiro. Hoje abati-me com a tristeza de que vou morrer sem nunca ter visto um eclipse!



Vou morrer podre e sem graça, num dia de chuva fina e repentina.Também não quero fazer isso hoje... Descobri os segredos do século, e reconheci o fato de que meus filhos, jamais vão presenciar a virada de milênio, e que se tiverem sorte e a saúde lhes permitisse, ainda assim, talvez assistam a virada do século. Não que isso tenha feito muita diferença em mim, que quando criança ansiava enernamente na possibilidade de aventurar-me aos limites na virada do século XX. Mas hoje de manhã, senti um cheiro de padaria em minha alma, pois, fora como se algo estivesse assado e queimado prestes a esturricar. Era o cheiro daquela pizza que coloquei no forno ontem na madrugada e que não comi. O dia raiou inconseqüentemente, privando-me da capacidade do sono.



Não acordei de fato, vasculhei feito um zumbi os cantos da sala, do banheiro, e da cozinha, pois tanto fazia, se o fizesse nos fornos a lenha de minha alma, ou nos da padaria na esquina. Sonhei ter visto um eclipse, e havia uma lembrança da casa toda fechada, e era uma lembrança antiga, esquecida lá no fundo da alma. As pessoas murmuravam e visualizavam as escondidas com suas tiras de negativos fotográficos, através das frestas na cortina da sala, do banheiro e da cozinha, um fenômeno natural da natureza. Não pude alcançar a janela da sala, da cozinha, nem do banheiro. Era como se fosse um dia sem noite e uma noite sem dia, mas confesso que não vi, e se eu disse que já tinha lido o que já li, e que não li, estava mentindo. Pois, bem avisei que estaria mentindo.



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