Eu não estudei economia, não consigo entender os problemas econômicos do nosso país. Mas parece que os economistas também não têm como resolvê-los. Explica-se que é necessário aumentar juros e diminuir o dinheiro circulante para conter a inflação, e isso traz queda do comércio e da indústria, aumenta o desemprego e diminui a arrecadação tributária. É como agravar uma doença com o tratamento de outra.
Um artigo da revista Superinteressante (dez/2002, págs. 38 e 39) abordou a matéria informando que, se o governo baixasse os juros, provocaria a fuga dos capitais estrangeiros e das aplicações de poupança, e não teria dinheiro para pagar seus débitos; além disso, as pessoas empregariam dinheiro em negócios ou consumo acelerando o crescimento econômico e resultaria inflação, porque “qualquer vendedor sabe que quando a procura é grande está na hora de aumentar os preços.” Até o Lula, que tanto maldizia o capital expeculativo, logo após vencer as eleições já afirmou que manterá os juros altos o quanto for necessário para evitar a inflação.
Mas o que corrói tudo de quem está com pouco não me parece ser a tal taxa Selic, que está sempre próxima dos 20% ao ano, ora mais ou menos. Se preciso de um empréstimo, nem se fala na tal Selic. Tenho que pagar juros de três, quatro, cinco, dez ou mais por cento, mas é ao mês. Se entrar no cheque especial, raramente o prejuízo fica menor que dez por cento ao mês. Se minha conta fica devedora, o banco me cobra taxa de excesso cumulada com taxa de acatamento de cheque, podendo chegar a mais uns vinte e poucos reais, mesmo que eu tenha ultrapassado o limite em alguns centavos por algumas horas. Se eu emprestar dinheiro para alguém e cobrar três ou quatro por cento, já poderei ser enquadrado no crime de agiotagem; mas se um banco me cobrar doze por cento ou mais não estará fazendo nada de errado, não obstante a Constituição proíba juro acima de um por cento ao mês.
Não temos como negar os efeitos apontados na revista acima. Mas por que será que nos Estados Unidos os juros são baixos e não resultam em inflação? Parece que aqui só o aumento da miséria é solução para o nosso País! Os salários ficam cada vez mais baixos para o consumo não aumentar e causar inflação. As alíquotas tributárias são cada vez mais altas para compensar as perdas de arrecadação. Há anos, alguém disse que a indexação salarial é como “o cachorro correr atrás do rabo”. Mas os arrochos salariais que se seguiram equivalem a ir cortando aos poucos o rabo do cachorro.
Parece que agora o Lula já está passando a entender que o trabalhador não pode ganhar bem, sob pena de haver inflação. Pretende reduzir o direito de aposentadoria dos servidores públicos, esquecendo-se de que os servidores pagam muito pelos direitos que têm (enquanto um trabalhador de empresa privada tem desconto previdenciário sobre valor máximo que pode receber na aposentadoria, o servidor público tem o desconto sobre a integralidade do seu vencimento, fazendo, assim, jus à aposentadoria integral). Seria justo alguém ter desconto sobre todo o seu salário e na hora da aposentadoria receber apenas uma parte dele tal qual uma pessoa que só tem desconto sobre aquela parte? Ou ele determinará a devolução do que temos pagado a mais? Não deve estar pensando nisso, mas é nosso direito. Como, por justiça, temos que pagar somente até o limite do nosso direito de aposentadoria, aí sim, não haverá arrecadação previdenciária para custear as aposentadorias dos que estão hoje recebendo proventos integrais.
Prece que já se pode vislumbrar o Lula “lá” do outro lado, e tudo devendo permanecer como antes. Gostaria de acreditar que não; mas parece que continuaremos a ser os acusados como culpados dos males do País. Espero estar enganado. Depois de oito anos de corrosão dos vencimentos, será que perderemos mais em proventos? Não está parecendo nem um pouco haver intenção de repor nossas perdas brutais da tenebrosa era FHC. Após os OITO ANOS de aviltamento sem reposição, fala-se que teremos quatro por cento de reajuste, enquanto os parlamentares, que não acumularam essas perdas, se deram cinqüenta e quatro por cento. Mas vou pensar que isso seja um sonho, aliás, um pesadelo.