Sempre me incomodou a visão que África, Ásia e América Latina são (ou seriam) meros quintais do mundo. É inegável nosso atraso socioeconômico, cientifico e político, mas também o é que temos virtudes e que estamos corrigindo mazelas. E isto também se aplica ao Brasil.
Se ainda padecemos com dengue, febre-amarela e chagas, doenças ícones de subdesenvolvimento, temos um mundialmente elogiado programa antiaids e erradicamos a pólio. Se ainda mal-tratamos idosos com aposentadorias pífias, por outro lado vivemos mais que antes.
Se a corrupção ainda graça, figuras como ACM, Luis Estevão, Jader Barbalho já sentiram o constrangimento de terem sido pegos em corrupção e provavelmente mesmo eleitos nunca mais terão a influência nacional de antes. Já depomos presidente, parlamentares e magistrados sem cair em regimes totalitários.
Não sou propriamente de direita ou esquerda. Voto conforme o momento. Isto me faz um não radical. Votei em lula e vejo nele o homem certo para enfrentar a crescente disparidade social. Mas isto não me impede de reconhecer que há quase nove anos não mudamos de moeda, não temos poupança confiscada. Pode se admirar ou detestar Pedro Malan, mas o fato de um homem ocupar por 8 anos a Fazenda denota estabilidade.
Vitórias são obtidas por etapas. Hoje até caciques petistas reconhecem que nos idos de 1989 não terem quadros e maturidade para exercer o poder numa virtual vitória ante Collor. Mas hoje, com homens como Zé Dirceu, Palloci, Dulci e sobretudo com um Lula mais maduro a chance de êxito é enorme. Hoje o PT sabe diferenciar o essencial diálogo entre os partidos e as nefastas negociatas.
Às vezes o simbolismo fala mais que os atos em si. Só o tempo dará adjetivos ao quadriênio 2003-2006, mas só o fato de termos 4 mulheres, vários homens de esquerda e todos eles liderados por um ex-retirante e metalúrgico já denota evolução.
Num país em que até a década de 30 greve era tratado como caso de polícia e que na de 60 meros pronunciamentos parlamentares eram pretextos para momentos de autoritarismo, vê a Praça dos Três Poderes com várias bandeiras vermelhas e com um clima de alegria e democracia é um sinal de evolução, de civilidade.
Mulheres como Benedita da Silva (ex-doméstica) e Marina Silva (ex-seringueira) são símbolos que toda terra é fértil desde que receba o mínimo de atenção do Estado. São, eu sei, casos isolados, mas que podem servir como parâmetros para um sem-número de jovens.
Lula no parlatório diz ser herdeiro de várias gerações. E certamente o é. Homens como Prestes, Darcy Ribeiro, Jango, JK, João Amazonas, inúmeros sindicalistas do pretérito e do presente e vitimas de todas as formas ditatoriais que o Brasil já teve, abriram alas para que o retirante de outrora fosse o presidente de hoje.
Temos um novo período. Oxalá que além de um novo mandato, tenhamos uma nova e melhor fase de ética, progresso e sobretudo justiça social.