Segundo a Revista Galileu de dezembro/2002, a coleção de textos que conhecemos como Novo Testamento foi selecionada no ano 363, com exceção do Apocalipse, que só veio a ser aceito no Concílio de Cartago, em 397. Mas o que me surpreende é ele ter sido aceito como parte da Bíblia em uma época em que o Império já era cristão. Nenhum outro livro bíblico foi tão agressivo contra Roma. Só esse escritor teve a coragem de chamar a capital do mundo de prostituta, o que para os romanos da época até não seria tão grave, porque as prostitutas eram bem conceituadas no império; mas na Roma convertida ao Cristianismo isso era muito insultante.
Há textos do livro de Daniel que falam de um reino que se enquadra no Império Romano. Mas o autor do Apocalipse foi muito mais longe. Após falar de uma “grande prostituta” que deveria ser condenada, que estava “embriagada com sangue dos santos”, chamando-a de “mãe das prostituições e abominações da terra”, ele detalhou: “As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada”, e depois arrematou: “E a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da terra.” (Apocalipse, 17).
O que mais teria a dizer o vidente? Estudiosos dizem que Roma era chamada de “urbes septicolis”, por estar edificada sobre “sete montes”. E que cidade senão ela reinava “sobre os reis da terra” naqueles dias? João teria visto em seus sonhos o Império Romano simbolizado por aquele animal sem igual, com sete cabeças e dez chifres, carregando uma prostituta, coisa tão abominável para os hebreus, que era a cidade capital do império. Não seria de admirar se o império convertido ao cristianismo determinasse a destruição de quaisquer exemplares do livro. Mas o livro foi admitido como verdade divina.