Em homenagem à memória do poeta e tradutor Helio C. Teixera, gaúcho de Vespasiano e carioca de coração (e de adoção,pois,chegou no Rio,ainda criança), transcrevo, a seguir,o seu artigo publicado no Jornal da Tijuca, de 30 de set. a 06 de out. de 1978:
"Em literatura, também surgem coincidências. Houve quem afirmasse que "O Crime do Padre Amaro", de Eça de Queirós, reproduz alguma coisa de "La Faute de l Abbé Mouret", de Zola, e que até Machado de Assis, em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", teria revelado algo de "Voyage autour de ma chambre", de Xavier de Maistre.
Em 1960, no suplemento dos estudantes,que o "Diário de Notícias", do Rio de Janeiro, distribuía todos os domingos, houve uma polêmica do redator daquele suplemento com Raymundo Magalhães Junior e Eneida, sobre algumas coincidências literárias, provocadas por Adalgisa Nery.Declarou o primeiro que tinha havido cópia intencional, e retrucaram os segundos que só podia ter havido uma afinidade intelectual.
Adalgisa Nery fora acusada de haver escrito algumas poesias muito semelhantes a certos poemas de Jorge de Lima. Admitimos, entretanto, que houve apenas uma coincidência literária,ou, como afirmaram, elegantemente, Raymundo e Eneida, - uma afinidade intelectual.
Agora, o que voltou a ser assunto, nas colunas literárias dos jornais, é a coincidência de haver semelhança entre os romances "Rebeca",da norte-americana Daphne du Maurier, e "A Sucessora",de Carolina Nabuco.
O que fez renascer a antiga polêmica sobre esses dois romances,é o aproveitamento da estória de ambos para a novela que brevemente será exibida por uma das Estações de TV do Rio de Janeiro.
O mestre Álvaro Lins, que foi talvez o maior crítico literário do Brasil, fez um estudo desses dois romances, comparando um com outro, e chegou a admitir a existência de plágio ou quase plágio.
Houve,pelo menos, coincidência: as duas autoras desenvolveram as linhas gerais do mesmo enredo, mas Álvaro Lins, certamente, não tinha lido o romance "Encarnação", de José de Alencar,pois,se o tivesse lido, teria concluído que a coincidência seria não apenas uma,e,sim, duas: a semelhança entre o romance de Daphne e o de Carolina,e também a semelhança entre esses dois romances e o de José de Alencar.
M. Cavalcanti Proença,na 2a. edição, de1974, de Ëstudos Literários",livro editado pela "José Olímpio-MEC", escreveu o seguinte na página 108:
"O tema de "Encarnação",a presença obsessiva da prima da esposa,é o mesmo tratado por Carolina Nabuco, em "A Sucessora", e pela americana Daphne du Maurier,em "Rebeca".
Realmente,no romance "Encarnação",de José de Alencar é que nasceu a estória do viúvo solitário e misterioso,que mantém um segredo sobre a primeira mulher,e cuja mansão acaba sendo destruída por um incêndio.
Assim,a verdadeira vítima dessas duas últimas coicidências literárias é, obviamente, José de Alencar,porquanto o grande escritor cearense viveu no século passado, e o romance de Daphne du Maurier e o de Carolina Nabuco foram realizados na década de 30 do século atual."