Mais que catarse para o mundo hostil em que vivem, o consumo de cocaína nas favelas do Rio revela uma dependência arrasadora destes consumidores, que querem mesmo é consumir não a droga, mas todo o glamour a que ela foi vinculada na década de 70. Segundo a antropóloga Alba Zaluar, “os moradores das favelas começaram a consumir a consumir cocaína no início dos anos 80, quando a droga tornou-se mais popular no país”.
Até pelo poder aquisitivo, quem consumia cocaína eram os ricos, e a mídia se encarregou de nos passar uma imagem de boa vida que essas pessoas levavam, cheirando a droga. As favelas então sentiram-se seduzidas por essa posição, e, com o baixo preço que a cocaína atingiu, hoje é possível ver famílias inteiras, que mal tem o que comer, cheirando juntas. Lógico que essas pessoas não pensaram que enriqueceriam apenas cheirando, mas serem vinculadas a uma imagem de bacana, para quem tem poucas perspectivas na vida, já é algo animador, massageando o ego tão ferido pelas precárias condições.
Num outro âmbito, porém com uma lógica semelhante, sonhos de consumo de um grupo de sem-teto ficaram diante dos seus olhos, numa pacífica visita a um shopping center do Rio de Janeiro. Eles reivindicavam o direito de consumir todos aqueles “sonhos” vendidos pela TV. Reivindicavam ser, acima de tudo, aquela imagem, fazer parte daquele mundo, tão sedutor. Mais que tetos, eles queriam uma mobília completa.
O sonho foi vendido, e como é de praxe, os mais marginalizados pagam a conta. E não ficam nem com o troco.