Numa das nossas inúmeras passagens pela Presidência da UBT-Recife, em substituição à saudosa poetisa Valdeci Camelo, aconteceu uma polêmica entre trovadores, quando um disse que a quadrinha constante do poema Juca Mulato, de Menotti Del Picchia: "Às vezes, também risonho,
um sonho minh´alma junca.
Corro doido atrás do sonho,
sem poder tocá-lo nunca."
sendo pinçada do seu poema, é uma trova perfeita, por ter existência própria,sentido completo.
A Mesa que presidia a reunião, concordou, sob o argumento de que, mesmo que o poeta, no caso, esteja se dirigindo ao Juca Mulato( o qual tentou, sem êxito, conquistar a filha do patrão), todas a criaturas têm seus sonhos, e, assim, quando o autor usa a palavra "também", pode se referir a qualquer um(a)...
Já o exemplo dado por outro confrade, teve menor apoio. Este disse que a quadrinha "Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá;
as aves que aqui gorgeiam,
não gorgeiam como lá."
de autoria de Gonçalves Dias, teria, também, sentido completo; com o que a maioria não concordou, dizendo que só se sabe tratar-se de Portugal ("...as aves que aqui gorgeiam..."), lendo-se o poema em que a quadra está incluída e por saber-se - os que têm conhecimento disso -, de que o poeta maranhense estudou em Coimbra.
Já a trova "Eu vi minha mãe rezando
aos pés da Virgem Maria:
- era uma santa escutando
o que outra santa dizia."
do poeta Barreto Coutinho, só passou a ter sentido completo, quando ele, ao retirá-la do seu poema MÂE, modificou o primeiro verso do original "E, um dia, a vi rezando..." para "Eu vi minha mãe rezando..."
A propósito, o poema de Barreto Coutinho a que ora nos referimos, foi publicado no jornal A Província, aí por 1890 (mais ou menos) e pode ser consultado no Arquivo Público - Rua Imperador Pedro II, 371 - telefone 81