“Os tempos mudaram”. Essa frase é muito pronunciada com o sentido de que as pessoas hoje vêem as coisas de modo diferente das do passado. Entretanto, podemos dizer que os tempos mudaram literalmente. A nossas medidas do tempo têm nomes incompatíveis com o que significam hoje, porque no passado se media o tempo de modo diferente.
Na infância, vivendo em uma região rural onde pouco se sabia de história, sem bibliotecas ou outras fontes para consulta, eu tinha muita curiosidade de saber por que alguns coisas tinham nomes que pareciam expressar algo bem diferente; entre elas estavam os nomes que utilizamos para medir o tempo. Eu perguntava: Por que o domingo é o fim da semana, e o dia que vem depois se chama “segunda-feira”, e não “primeira-feira”; por que setembro é o nono mês e não o sétimo? Se libra é a sétima casa do zoodíaco, não será que estamos contando o ano de forma errada?
Certo dia, alguém me explicou que Deus havia feito o mundo em seis dias e descansado no sétimo, dando-lhe o nome de sábado; porém, quando Cristo foi crucificado, morto e ressuscitado, a ressurreição ocorreu na “primeira-feira”, e Deus determinou que as pessoas passassem a repousar naquele dia em lugar do sábado e lhe deu o nome de domingo. Pareceu-me uma explicação plausível, mas continuei discordando de ser o domingo o fim da semana, porque até os calendários mantinham o domingo no começo da semana e não no fim. Prevalecia a curiosidade quanto aos meses.
Muitos anos depois, quando eu já podia comprar livros para a satisfação da minha curiosidade, foi-me dito que era falsa aquela explicação da troca do sábado pelo domingo; que Deus não havia determinado a troca, mas o papa, que seria aquela besta do Apocalipse, havia mudado os tempos e as leis, pondo o primeiro dia da semana em lugar do sétimo. Eu pensei: deve estar aí também a razão de hoje começarmos o ano na data errada. E, lendo o Novo Testamento, notei que em nenhuma das menções a fatos ocorridos no primeiro dia da semana esse dia tinha um nome, sendo chamado simplesmente de “primeiro dia da semana”. Isso me reforçou a idéia de que os adventistas tinham razão. Se no início do Cristianismo tivesse ocorrido a troca do sábado pelo domingo, esse nome teria aparecido nos escritos apostólicos.
Após muito estudar a Bíblia e me tornar adventista por um período de aproximadamente quatro anos, percebi que o apóstolo Paulo, o maior arauto do Cristianismo da época, dissera que esses princípios de observação de “dias de festa, lua nova ou sábados” eram “sombras das coisas que estavam para vir”, não devendo mais ser observados. Contudo, nada dizia sobre observar outro dia em lugar do sábado.
Procurando analisar o que seriam as sombras, ritos observados em comemoração de fatos passados e de coisas futuras, comecei a notar que, com exceção da menção do sétimo dia no relato da criação, nenhuma passagem bíblica seguinte apresentava o sábado na vida de pessoas como Noé, Isaque, Abraão, Jacó, etc. Verifiquei algo estranho no quarto mandamento das duas tábuas: “Lembra-te de que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia do sábado” (Deuteronômio, 5: 15). Se Deus havia determinado a guarda do sábado pelo fato de ter libertado o povo de Israel da servidão egípcia, aí estava a razão da falta de menção do repouso na vida de seus antepassados. O mandamento teria surgido no êxodo e assim como outros ritos da lei, como dias de festa e lua nova, o sábado teria a mesma natureza simbólica.
Mas essas descobertas não me explicaram os nomes de segunda, terça, quarta, quinta e sexta-feira, que só vim a saber muitos anos depois, quando li que foi o “o papa Silvestre I, líder cristão entre 314 e 335”, que trocou os nomes existentes dos dias da semana por “feria prima, feria secunda, feria tertia, feria quarta, feria quinta, feria sexta e feria septima”, mas o povo não gostou da nomenclatura, ficando a maioria dos calendários com os antigos nomes astrológicos (SUPERINTERESSANTE, dez/1999). Só os portugueses adotaram os nomes dados pelo papa, mas mantiveram o nome de sábado para o sétimo dia e domingo para o primeiro.
Em relação aos meses, minha curiosidade foi satisfeita um pouco mais cedo do que a respeito da semana. Comprando um antigo livro intitulado História del Oriente, nele fui informado de que foram os sacerdotes caldeus que inventaram as medidas do tempo, criando também a semana em honra dos sete astros (pág. 118). O livro não descrevia muitos detalhes, mas foi fácil para mim entender o que ocorrera: Os sacerdotes caldeus, que eram astrônomos e astrólogos, observando o aparente movimento do sol, criaram o ano, que iniciava no equinócio de primavera, coincidente com o início do signo de áries". Aí estaria a razão do nosso nono mês chamar “setembro”; ele fora inicialmente o sétimo mês, como eu imaginava. Outras fontes históricas informam que o mês que hoje chamamos “julho” recebeu o nome em homenagem a Júlio César e antes chamava “quintilis”, deixando claro que era o quinto mês, não o sétimo.
Fiz uma análise do que poderia ser mais confiável do que encontramos escrito de forma contraditória sobre a origem dessas coisas; porque uma informação seria falsa e eu deveria procurar descobrir qual delas. Após comparar várias informações, concluí o seguinte: Além de a própria Bíblia nos apontar a saída do povo israelita do Egito como o marco inicial do mandamento da guarda do sábado, todos os calendários que vi, com exceção do nosso continham nomes astrológicos, o que indica ser a semana criação dos astrólogos caldeus em vez de criação divina na origem do mundo. O calendário romano chamava os dias de “dies solis”, dies lunae”, “dies martins”, “dies miercolis”, “dies juevis” e dies saturni”, o que na nossa língua é “dia do Sol”, “dia da Lua”, “de Marte”, “dia de Mercúrio”, “dia de Júpiter” de “dia de Saturno”. Esses nomes dados aos astros eram dos deuses em que os antigos romanos criam e deveriam coincidir com as crenças dos caldeus. Se a versão de uma semana criada no início do mundo só pertence aos hebreus, e a origem astrológica é refletida nos calendários de quase todos os outros povos, só posso concluir que esta deve ser a verdadeira. Ademais, a arqueologia mostra que o mundo tem bilhões de anos, o que também desautoriza o mito criacionista.
As mudanças efetuadas deixaram de observar as posições astronômicas certamente para homenagear fatos relevantes do povo que alterou o calendário.
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