Hoje ao passar por uma obra, olhei os operários de capacete. Achei legal, eles estavam se protegendo. Alguns estavam em andaimes mais ou menos altos, o que sempre é meio perigoso. Nos diversos trabalhos que existem, às vezes é necessário usar algum tipo de proteção. As pessoas que trabalham na saúde usam luvas,máscaras,gorros, também como defesa, só que não contra quedas e sim contra seres invisíveis, os micróbios.
Mais tarde falei com uma mulher e ela estava usando um capacete apertado, embora invisível: um tipo de capacete de mulher. Este não defende de nada, foi passado de mãe pra filha, de geração a geração. Aquele que dá satisfação para a sociedade. Talvez também proteja um pouco do perigo da solidão. "Antes mal acompanhada do que só". Ela se queixava que era horrível viver seu casamento,mas o que fazer, precisava mantê-lo.
Esse encontro casual e seus comentários, mexeram comigo. Preciso drenar para fora de mim essa emoção, e todas as conjecturas que circulam por minha mente após o nosso diálogo.
Fiquei pensando como nós mulheres usamos capacetes invisíveis, que nos oprimem a cabeça e não nos ajudam em nada.E o pior é que nós mesmos deixamos que eles permaneçam.
Um deles é o capacete preconceito de idade. Onde se viu mulher com mais de 60 anos de cabelos compridos? Não, não pode, não deve. Envelhece, é a opinião da cabelereira, passe numa para ver a pressão. O legal é bem curtinho, com a nuca de fora. Assim é bom para o salão de beleza, tem que ir sem falta todo mês. E se branqueou, corre lá a pintar, mesmo que logo a seguir fique duro, espetado, de vários tons, não importa, feio mesmo é ser natural, branco. Branco para os homens fica bonito, charmoso, mas para as mulheres não ! Então, vamos usar o capacete de idosa, quem se atreve a mudar isso?
Bem mas esta história estética é de somenos importância. Pior são os capacetes invisíveis de escrava. Falando nisso, estamos em maio, o mês que a Princesa Isabel libertou os escravos. Só podia mesmo ser uma mulher a fazer isso. No entanto, embora as mulheres tenham tanta sensibilidade ao sofrimento alheio, na maioria das vezes não tem em relação ao seu próprio.
Muitas se anulam e bastante, por exemplo as que usam o capacete de dona de casa: fazer janta após um dia estafante de trabalho, enquanto o marido gordo descansa no sofá, levantar de madrugada para fazer mamadeira e embalar o nenê enquanto o marido dorme, fazer outro lanche para o filhinho adolescente enquanto ele lê revistinhas ou mexe no computador,lavar a roupa de todos da casa, pois os filhos e maridinho não sabem lavar uma meia, ir no supermercado carregar pilhas de compras e enfrentar trânsito pesado, chegar em casa descarregar tudo e guardar, pois a família está ocupada em outras coisinhas mais leves ou descansando, fazer comida aos domingos e feriados para economizar restaurante do bolso de todos enquanto eles dormem até o meio dia, passar as camisas porque eles não sabem (coitadinhos) ir ao banco enfrentar filas enormes, porque ninguém pode ir pagar as contas, varrer a casa, passar roupa,molhar as plantas e etc, etc . Cada casa é um caso.
Ah, dirão alguns, que assunto chato esse, não tem importância alguma. No dia das mães a gente dá um presentinho pra ela e pronto. Quem sabe uns panos de pratos novos? Ou um liquidificador novo? Ou conserta a máquina de lavar que está estragada ha tempos? Ou uma caixa de bombons que ela vai distribuir conosco e é bem baratinha? Ou a loja de 1,99 lá tem tanta coisa de plástico, colorida. E ela não é exigente...
A mulher que encontrei é uma mulher normal, comum, amiga desde 1990. Ela quer atenção, carinho, respeito. Ela quer que a amem e mostrem esse amor com atos, com auxílios diários. Ela está exausta. Ela se sente usada. Ela perdeu sua identidade. Não sabe mais do que gosta, pois se anulou totalmente para o lar. Ela não tem tempo de ler um livro, de descansar, de conversar, ir a um bom filme, cuidar de sim mesma, inclusive sua saúde. Só quer dormir no final do dia e assim fugir por algumas horas de sua rotina.
O caminhão da limpeza urbana passa que dias mesmo? Capacete invisível dá pra pôr no lixo ?
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