Entramos na sapataria e as moças vendedoras estavam comentando sobre a situação do país:
-Olha aí, você foi votar no Lula e, até agora, nada resolvido.
A outra, desiludida, mumurou:
- É, você tem razão, até agora nada...
Juan Sotto olhou-me espantado, mas não disse nada.
Quando saímos, comentou:
Era disso, exatamente, que eu tinha medo: a desilusão. O povo andava muito frustrado por tantos anos de sofrimento. Perdeu a ilusão e a paciência. Ninguém poderia mudar as coisas de uma só vez. Nem Deus fez o mundo num dia só. É imprescindível que o povo brasileiro dê, realmente, um crédito de confiança no novo governo. Mais que isto, é absolutamente necessário que Deus ilumine os caminhos do novo governante para que ele e sua equipe possam conduzir a nação por caminhos seguros.
A questão da previdência, por exemplo, está sendo tratada de modo muito passional. As iniciativas de previdência privada, até aqui têm sido infelizes e desastrosas aqui no Brasil. O povo fica desconfiado. Quem vai confiar?
Quem nos assegura que toda está confusão não está sendo patrocinada por interesses escusos, interesses dos que manipulam tais empresas privadas, ansiosos por meterem a mão nas contribuições de complementação?
Quem pode nos assegurar que tais osganizações possuem idoneidade para garantir, no futuro, uma aposentadoria digna a quem pode delas se socorrer?
Não é fácil, amigo. Não é fácil.
E calou-se pelo resto do dia, mostrando um ar de grande preocupação.