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Artigos-->OS EUA SEGUNDO HOBSBAWN -- 27/01/2003 - 20:20 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


OS EUA SEGUNDO HOBSBAWM




O texto a seguir foi extraído do livro “Tempos Interessantes – Uma vida no Século XX” (página 446) do historiador Eric Hobsbawm. Para quem não o conhece, Hobsbam é considerado o maior historiador vivo do século XX. É autor de obras como “Era dos extremos – o breve século XX”, “O novo século” e “Sobre História” entre outros. Praticamente todas as suas obras estão disponíveis em Português.






Nosso problema não é que nos estejamos americanizando. Apesar do fortíssimo impacto da americanização cultural e econômica, o resto do mundo, e até mesmo o mundo capitalista, até agora tem mostrado surpreendente resistência a seguir o modelo da sociedade e da política americanas. Isso ocorre provavelmente porque a América é menos um modelo social e político coerente, e portanto exportável, de democracia capitalista liberal, baseado em princípios de liberdade individual, do que sugerem sua ideologia patriótica e sua Constituição. Por isso, longe de um exemplo claro, capaz de ser imitado pelo resto do mundo, os Estados Unidos, ainda que poderosos e influentes, continuam a ser um processo inacabado, distorcido pelo poder do dinheiro e pela emoção pública, de manipulação das instituições publicas e privadas a fim de faze-las adequar-se a realidades imprevistas no texto inalterável de uma Constituição de 1787. Simplesmente não se prestam a ser copiados. A maior parte de nós não desejaria copiá-los. Desde a puberdade tenho passado mais tempo nos Estados Unidos do que em qualquer outro país, salvo a Grã-Bretanha. Mesmo assim, sinto-me contente por meus filhos não terem crescido lá, e por pertencer a outra cultura. No entanto, ela é também a minha.



Nosso problema é que o império americano não sabe o que quer e nem o que pode fazer com seu poderio, e tampouco conhece seus limites. Simplesmente afirma que os que não estão do seu lado são adversários. Esse é o problema de viver no auge do “século americano”. Como tenho 85 anos de idade, provavelmente não verei sua solução.



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