Rio de Janeiro - 24/01/2003 - Artigos - Número 273 Boletim da Associação dos Engenheiros da Petrobrás
AMEAÇA CONTRA A HUMANIDADE
Celso Brant - Escritor e economista
Só por ignorância ou má-fé podemos considerar hoje os Estados Unidos um país democrático. A sua experiência democrática é coisa do passado, quando um grupo de homens de primeira ordem pensou em construir uma nação independente, pronta a ajudar todas as outras nações a conviver num mundo marcado pelo espírito de solidariedade e pelo mútuo entendimento.
Os EUA abandonaram o caminho de democracia quando, vitoriosos na Segunda Guerra Mundial, foram tentados pela ambição de dominar o mundo. Na Segunda Guerra Mundial, muitos países (inclusive os EUA) se uniram para impedir que Hitler realizasse o seu sonho de transformar a Alemanha num país hegemônico, que dominasse todos os outros. Uma vez vitoriosos, os EUA se aproveitaram da sua posição de força (tinham o maior exército, a bomba atômica em caráter de exclusividade e haviam transformado a sua moeda - o dólar - em moeda internacional) para impor ao mundo a mesma hegemonia que haviam negado à Alemanha. Até hoje ninguém compreendeu a razão por que a Alemanha não podia ser um país hegemônico, e os EUA podem.
Como há uma absoluta incompatibilidade entre hegemonia e democracia, os EUA deixaram de ser uma democracia e passaram a usar o nazismo como instrumento de ação política. Hoje é fácil observar como os americanos, para dominar o mundo, usam os mesmos métodos que foram utilizados por Hitler. O que causa estranheza é que os outros países reagem de forma diferente aos crimes dos EUA. A invasão da Tchecoslováquia e da Polônia, por exemplo, revoltou todo o mundo, que reagiu pegando em armas e partiu para retaliação. Os EUA, ao contrário, invadiram impunemente o Afeganistão, sem nenhuma reação dos países democráticos. E, agora, o presidente George W. Bush, uma nova versão de Adolf Hitler, está anunciando que vai invandir o Iraque para derrubar um presidente que não se submete às suas ordens.
Os EUA são hoje a maior organização terrorista da história humana: descumprem as resoluções da ONU, proíbem os países de comercializar entre si, mandam matar presidentes de outros países, bombardeiam populações indefesas, derrubam presidentes eleitos pelo voto popular e os substituem por capachos subservientes às suas ordens. Usando a maior chantagem que a Humanidade até hoje conheceu - a imposição do dólar como moeda internacional - destroem a economia das outras nações, cobrando juros extorsivos e comprando por ninharias as suas riquezas.
O que está acontecendo à Argentina, por exemplo, é repulsivo. Os EUA, através do Projeto Neoliberal - o mesmo que está destruindo o Brasil - transformaram aquela nação, que foi uma das mais prósperas do mundo, numa completa ruína. Ainda ontem, os jornais informavam que mulheres de 60 a 70 anos, em Buenos Aires, estão se prostituindo em praça pública para sobreviver.
É inacreditável que a nação mais rica do mundo, fazendo-se passar por democrata, tenha de usar métodos tão torpes para manter a sua prosperidade. Mais estranho ainda é que as outras nações, vítimas desse assalto e dessa violência, não se unam par acabar logo com esse continuado atentado à dignidade humana. Os EUA não representam hoje apenas um desestímulo à ordem democrática do mundo, mas constituem uma séria ameaça à sobrevivência da própria Humanidade.