Alguns escritores de Usina me pediram para não entrar nessa “flame war”, nessa tal de guerrilha eletrônica boboca com o Sr. Espírito Santo. Em atenção a esses três ou quatro leitores, hoje dou por encerrado o episódio. Antes, convém esclarecer o que houve.
Eu havia escrito um artigo, “Lembrar é preciso – 9”, em que historiava o vil crime cometido por Lamarca e seu bando, assassinando a coronhadas de fuzil um oficial da polícia de São Paulo. O tenente Mendes havia se entregado a Lamarca em troca da liberação de alguns soldados que comandava, que haviam sido aprisionados pelos guerrilheiros. Como Lamarca não podia executar o oficial com um tiro, pois iria chamar a atenção das forças de segurança que procuravam os guerrilheiros nas imediações, o tenente Mendes foi torturado até a morte e enterrado lá mesmo, nas matas de Registro, São Paulo. Dizia eu que o tenente Mendes deveria ser considerado um herói, não Lamarca ou Prestes – este último sendo homenageado com a construção de inúmeros memoriais Brasil afora, embora tivesse sido um assassino frio, ao mandar matar Elza, uma comparsa da Intentona Comunista de 1935, escrevendo um bilhete aos “camaradas”, dando uma bronca por que ainda não haviam executado a “garota”.
Aí, não sei por que cargas d’água, o Sr. Espírito Santo publica um artigo dizendo que estava de saco cheio em ouvir minha lenga-lenga anticomunista, que o tenente Mendes era um personagem da opressão, algo assim, que eu, entre Stálin e Hitler, escolheria Hitler.
Não sei de onde o Sr. Espírito Santo sacou essa conclusão. Em primeiro lugar, sou contra qualquer forma de sistema totalitário. Se o leitor tiver dúvida, dê uma espiada em “Arquivo da Intolerância”, um dicionário ainda em elaboração, em que eu enumero as mais diversas formas de intolerância existentes no mundo. Além do mais, sou descendente de marranos, segundo me garantiu o líder da Sinagoga Beit Israel, de Brasília. Meu bisavô tinha pavor de Hitler quando este tomou o poder na Alemanha, pois achava que o tirano iria matar todos os judeus e os descendentes de judeus espalhados pelo mundo – o que era o seu caso. Como eu posso admirar alguém que poderia ter destruído meus ascendentes e que, em conseqüência, eu nunca teria existido?
Comunista sempre acha que quem é anticomunista é, automaticamente, nazista. Dentro da lógica dualista estreita que aprendeu com o marxismo, o Sr. Espírito Santo me colocou à escolha o capeta (Stálin) e o diabo (Hitler). Como ele sabe que não tenho trato com o capeta, só posso ter feito pacto com o diabo...
Conheço muito bem a manha dessa gente. Eles vêm a público e afirmam coisas que você não é e coisas que você não disse. Se você não responder ao insulto, você está automaticamente concordando com aquelas afirmativas. Se você, porém, responder com a mesma ênfase, usar de palavras duras, logo se sentem ofendidos, se apresentam como coitadinhos e passam a dizer que você baixou o nível da discussão. Os insultos continuam, se houver uma tréplica, porém, não é feito o que deveria ser elementar em uma situação como esta: discutir civilizadamente as idéias colocadas em questão – se é que há idéias para discutir.
Portanto, em consideração aos escritores de Usina, aqui encerro minha resposta ao Sr. Espírito Santo, mesmo que ele continue com suas tréplicas, kiloplas, gigaplas ou nanoplas.