Este artigo trata da Administração portuária e algumas de suas implicações.
Observa-se que a cultura ocidental desenvolveu-se em grande parte, pelo menos na Grécia antiga pelas trocas que ocorriam através do comércio marítimo. Durant (2000) situa que: De 490 a 470 a.C. Esparta e Atenas unem suas forças para combaterem e derrotarem os esforços dos persas, que sob Dario e Xerxes queriam transformar a Grécia numa colônia do império asiático. Nessa luta da jovem civilização contra o oriente, Esparta forneceu os exércitos e Atenas, a marinha. Terminada a guerra, Esparta desmobilizou suas tropas e sofreu as perturbações econômicas do processo de fim de guerra, já Atenas transformou sua marinha de guerra numa frota mercante e tornou-se uma das maiores cidades comerciais do mundo antigo. Esparta voltou a cair no isolamento agrícola e na estagnação, enquanto Atenas se tornava um movimentado mercado e porto, o local de encontro de muitas raças de homens e de diversos cultos e costumes, cujo contato e rivalidade geraram comparações, análise e reflexões.
É interessante pensar-se que essa associação porto e mercado, já no início da cultura ocidental estão associados, o que remete-nos ao aparentemente óbvio: é o porto que vai propiciar a entrada de produtos e a criação de um mercado com sua correspondente troca de riquezas, mas é também, no início do mundo ocidental, que o porto tem a função de troca de idéias, convivência com culturas e pensamentos diferentes do grego da época, o que fazia com que os mesmos, na situação de comerciantes, “importadores e exportadores” tenham sido os primeiros céticos, haviam visto demais para acreditarem demais, e a disposição dos mercadores de classificarem todos os homens como patifes, levavam-nos a questionar todos os credos. Aos poucos, também os nossos primeiros trabalhadores portuários estavam desenvolvendo a ciência, a matemática florescia com a crescente complexidade de intercâmbio, e a astronomia, com a crescente audácia da navegação. O aumento da riqueza trazia o lazer e a segurança, que são pré-requisito da pesquisa e da especulação, os homens consultavam agora as estrelas não mais apenas à procura de orientação nos mares, mas também como resposta aos enigmas do universo.
Tem-se então na história de nossa cultura uma função fantástica decorrente do desenvolvimento do porto e seu comércio: a possibilidade de espantar-mo-nos com o universo, a possibilidade de pensar sobre o pensamento o que é uma das primeiras características da filosofia, sobre a qual desenvolveu-se muito do que no presente somos enquanto raça humana.
Porto em suas múltiplas significações pode ser definido (Houaiss, 2002), para o recorte deste trabalho como: trecho de mar, rio ou lago próximo à terra, que tem profundidade suficiente e é protegido por baía ou enseada, onde as embarcações podem fundear e ter acesso fácil à margem; já como termo da marinha, podemos dizer que porto é a área marítima, fluvial ou lacustre, abrigada junto ao litoral ou à margem, que dispões de instalações para embarque e desembarque de passageiros e mercadoria bem como o armazenamento destas últimas.
Serviço que é o outro termo da proposição “Serviço Portuário” nos remete a ação ou efeito de servir, de dar algo de si em forma de trabalho, bem como exercício ou desempenho de qualquer atividade; se fizermos o recorte do termo dentro da rubrica economia teremos que serviço é a atividade humana destinado à satisfação de necessidades, mas que não apresenta o aspecto de um bem material, por exemplo a atividade de profissionais liberais o que nos remete a questão do Serviço Portuário como a atividade administrativa ligada ao funcionamento de um porto.
O administrador em serviços Portuários deve ter uma perspectiva gerencial e visão global de negócios buscando conhecimentos que o levem a aperfeiçoar suas práticas de gestão em empresas prestadoras de serviços portuários e logísticos, bem como desenvolver a habilidade em tomada de decisões, gerenciamento e liderança, além de buscar qualidade nos serviços prestados e na administração eficiente das organizações, pessoas e recursos.
O setor logístico e portuário demanda a uma visão empresarial e estratégica, já que há uma forte necessidade de apresentar resultados de rentabilidade e produtividade. Para que as organizações ligadas ao serviço portuário enfrentem um mercado em ebulição, repleto de possibilidades e oportunidades, precisa-se contar com profissionais que tenham mentalidade, comportamento e atitudes que superem as expectativas, pois só assim poderão encarar tantos desafios. Necessita-se uma melhora constante de produtividade e habilidades desses administradores. Dentro de uma visão administrativa o setor precisa ter a contribuição de profissionais com capacidade gerencial voltada para o crescimento e para os resultados
Numa visão panorâmica, Administração pode ser definida como a ciência que tem por objeto estudar a organização, o planejar, as relações funcionais, os melhores meios de produção, o controle e a execução de uma determinada área de atuação loborativa do ser humano. Já a administração portuária leva em conta todo o processo administrativo, visando o funcionamento portuário, o qual utiliza as vias marítimas para o comércio (importação e exportação) e como meio de executar seu trabalho.
Com respeito às funções do administrador, seja ele alguém que trabalhe num porto, numa estatal, numa multinacional, Mitzenberg (APUD: Mattar, 1997) situa o administrador como o centro nervoso da organização, apontando dez papéis principais desempenhados pelo mesmo: a nível interpessoal (símbolo, líder e ligação), informacional ( monitor, disseminador e porta-voz) e decisional (empresário, solucionador de problemas, alocador de recursos e negociador), sendo que em grande parte desses papéis o administrador serve como ponte.
Tomando-se esses papéis na questão portuária, podemos encontrar o administrador portuário gerenciando recursos humanos, fazendo negociação com os sindicatos muitas vezes situando-se em ambos os lados: o sindical e o patronal, empresariando situações como a importação e a exportação de produtos, gerenciando empresas de prestação de serviços e apoio tático à chegada e partida de navios, líder de grupos de trabalho junto ao serviço portuário, e muitas outras correlações que podem ser feitas com as especificidades do trabalho portuário.
Matar (1997) situa ainda em relação ao papel do administrador a questão de desdespartamentalizar o pensamento que é um conceito de Mary Parker Follett, tentando no âmbito da empresa (ou no nosso caso porto) observar a situação total, isto é, o todo, que é uma idéia que Chester Barnard coloca como característica essencial ao executivo a arte de sentir o todo, a capacidade de sentir uma situação em sua totalidade, para orientar a tomada de decisões, idéia essa que se aproxima da que Chiavenato (1993) denomina de “habilidade conceitual”, principalmente nos níveis da alta direção.
Chiavenato (1993) vai situar que o controle do ponto de vista da eficácia de toda organização, pode ser dominado por um aspecto particular – o econômico, o político, o religioso, o científico, o tecnológico, com o resultado de que a eficiência não fica assegurada, e o fracasso pode advir, ou ameaçar constantemente a organização, sem dúvida no desenvolver-se uma crise, devido ao tratamento não equilibrado dos fatores citados acima, é a ocasião para o executivo que possui a arte de sentir o todo.
Melo e Souza (APUD: Matar, 1997) defende a necessidade do administrador de empresas cultivar-se intelectualmente, evitando a obsessiva e constrangedora verticalização na especialidade. Sugere aos executivos que leiam, leiam não exclusivamente o texto técnico, mas também a ficção, o conto, o romance, o ensaio, a poesia, o teatro, a biografia, a história do homem, da civilização, da natureza, as humanidades apontando que tais leituras auxiliam o administrador a tomar decisões mais adequadas, a ter mais equilíbrio, a ser mais criativo, a julgar com mais sabedoria.
BIBLIOGRAFIA
CHIAVENATO, Idalberto. Teoria geral da administração. 4 ed. São Paulo:
McGraw-Hill, 1993
MÁTTAR, João. Filosofia e administração. São Paulo: Makron, 1997.
HOUAISS, Dicionário eletrônico da língua portuguesa. Instituto Antonio
Houaiss. 2002.
OLIVEIRA, Carlos Tavares. Comércio Exterior e a Questão Portuária. São Paulo: Edições Aduaneiras, 1992.