Usina de Letras
Usina de Letras
28 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63232 )
Cartas ( 21349)
Contos (13301)
Cordel (10360)
Crônicas (22579)
Discursos (3248)
Ensaios - (10681)
Erótico (13592)
Frases (51756)
Humor (20177)
Infantil (5602)
Infanto Juvenil (4948)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141311)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6356)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Notícias de uma guerra (quase) particular -- 14/02/2003 - 00:58 (Fernando Jasper) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quais são os limites do fanatismo? Talvez eles nem existam. Seja no Iraque, na faixa de Gaza ou nas arquibancadas de um estádio, levá-lo às últimas conseqüências costuma resultar em tragédias. Em “Corações Sujos”, o jornalista Fernando Morais conta um capítulo quase desconhecido da história do Brasil e mostra como o fanatismo, disfarçado de nacionalismo e devoção à pátria, pode ser apenas um dos pretextos para a violência.





O interessante é que aqui não se fala da violência contra o torcedor do clube rival, nem entre palestinos e israelenses, muito menos entre católicos e protestantes da Irlanda do Norte. A intolerância se passa em níveis de intimidade muito maiores, chegando a ser um conflito quase que particular.





O livro conta a história – real – da Shindo Renmei, organização secreta que surgiu alguns meses após a rendição do Japão e o conseqüente fim da Segunda Guerra Mundial. A “Liga do Caminho dos Súditos”, sua tradução para o português, era formada por imigrantes japoneses que moravam no estado de São Paulo e jamais acreditaram – ou quiseram acreditar – na rendição de sua pátria. Afinal de contas, em 2600 anos de guerras, o país do sol nascente nunca havia sido derrotado.





Seguidores cegos das tradições e costumes do “invencível” Japão e súditos leais do imperador Hiroíto, os integrantes da Shindo eram constantemente tachados de loucos e alvos da chacota de brasileiros. Tal como eremitas que voltaram à civilização, negavam-se a aceitar as notícias de rádios e jornais que divulgavam a derrota japonesa. Para eles, tudo era produto da propaganda americana, que teria como objetivo desmoralizar os japoneses de todo o mundo.





Se tivessem ficado somente no discurso “vitorista” – que propagava a vitória do Japão – não teria sido tão trágico. Mas a Shindo não era só discurso. A organização pretendia eliminar todos os “corações sujos” ou “derrotistas” – imigrantes japoneses “esclarecidos”, que tinham consciência da derrota de seu país e, quando perguntados, não hesitavam em confirmá-la. Para a Shindo, verdadeiros traidores da pátria, que deveriam pagar por esse crime. Com a vida.





Com poucas palavras, a sentença de morte era comunicada pessoalmente ao condenado, muitas vezes por um amigo de infância que, apesar da amizade, precisava honrar a pátria. “Lave sua garganta” era o aviso para a vítima estar pronta. Se não quisesse morrer pela mão de um dos matadores da Shindo, lhe era dada a oportunidade de “purificar sua alma” por conta própria, praticando o suicídio.





A série de atentados durou mais de um ano e teve um saldo de 23 imigrantes mortos e quase 150 feridos. Em pleno território brasileiro, uma guerra de japoneses contra japoneses, na qual 80% da colônia apoiava a Shindo e sua limpeza ideológica. Mesmo não fazendo parte da seita, muitos preferiam ser torturados pela polícia a confirmar a derrota do Japão. Tudo em nome de uma honra e de um orgulho questionáveis. Neste ponto, lembramos dos absurdos confrontos em campos de futebol ou entre seguidores de diferentes religiões.





“Corações Sujos”, Prêmio Jabuti 2001 da categoria “não-ficção”, é mais um ótimo livro-reportagem de Fernando Morais, um especialista neste tipo de literatura. Autor de “A ilha”, “Olga” e “Chatô, o Rei do Brasil”, mais uma vez ele soube transformar longas pesquisas e várias dezenas de entrevistas em uma obra que pode perfeitamente ser lida como um romance. Tanto pelo texto envolvente como pela ótima história que, de tão absurda, parece inventada. A vantagem é que, acreditando ou não, você não precisa se preocupar com as conseqüências. Pelo menos enquanto estiver longe de fanáticos...



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui