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Artigos-->A cidade ideal para altos executivos -- 14/02/2003 - 01:00 (Fernando Jasper) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma pesquisa realizada pelo Grupo Catho, que entrevistou cerca de dez mil altos executivos, mostrou que grande parte deles aceitaria uma transferência para Curitiba, mesmo que a proposta não incluísse aumento salarial.





Divulgada na semana passada, a pesquisa mostrou também que a cidade é a considerada a capital ideal, entre todas as citadas, para os entrevistados passarem a morar. E não é à toa.





Curitiba é vendida pela mídia como a capital brasileira com a melhor qualidade de vida. A revista Exame, por exemplo, é uma das suas grandes divulgadoras, através de seguidos guias de “melhor cidade para se fazer negócios”. Também não é à toa.





A cidade é fruto de um meticuloso planejamento, iniciado nos anos 70 pelo então prefeito Jaime Lerner, atual governador do Estado do Paraná.





A excelência deste planejamento mostrou resultados: boa parte dos brasileiros demonstra vontade de, pelo menos, conhecer a cidade do Jardim Botânico, da Ópera de Arame, das estações-tubo e de outros tantos “monumentos” feitos de acrílico e tubos de ferro.





O chamado city marketing é um dos responsáveis. Com o intuito de atrair novos investidores para a cidade, ele tem como uma das principais estratégias martelar, martelar e martelar na mente das pessoas que belos monumentos e uma considerável área verde são fatores que realmente melhoram suas vidas.





Detalhe: o city marketing não constrói mitos sobre algo irreal, o que é impossível. Apenas pega fragmentos do real e os hipervaloriza, transformando-os em estereótipos. Atraentes edificações (Faróis do Saber, o famoso Jardim Botânico etc) e eficientes slogans (cidade modelo, capital ecológica...) a cidade tem de sobra.





Chamando a atenção dos executivos, o city marketing curitibano faz com que estes empresários não hesitem em levar para Curitiba também suas empresas. A cidade se desenvolve, torna-se cada vez mais atraente e o círculo vicioso dificilmente tem fim.





E aí chegamos a uma inevitável e verdadeira conclusão: Curitiba realmente é uma excelente cidade para se viver. Especialmente se você pertencer à classe média ou, mais especialmente ainda, às classes acima dela. Serviços high tech não faltam. Shoppings, bosques e parques para passear também não. O sistema de transportes parece excelente.





O problema é se você não fizer parte da classe média – o que dificilmente será o caso de você, leitor que, por sinal, tem acesso à internet. Porque o maior trunfo desse tipo de marketing é justamente fazer parecer que não existe pobreza em Curitiba – o que atrai ainda mais os empresários e executivos.





Claro que não é um trunfo somente do city marketing, e sim de sua associação com um planejamento minuciosamente estudado para deixar as classes mais baixas bem distantes do centro.





Você visita a cidade, conhece todo a região central e bairros próximos e “se encanta”: só se vêem pessoas de pele clara, bem-vestidas, as ruas são limpas, os ônibus biarticulados passam rapidamente pelas canaletas exclusivas e tudo mais.





Onde, afinal, estão os pobres? Estrategicamente chutados para a periferia, longe do circuito de qualquer city tour imaginável. Longe de terem o “comportamento curitibano” divulgado pela imprensa. Não chegam perto de teatros, nem de shoppings, nem de Óperas de Arame. Cada vez mais afastados e excluídos da cidade e de sua vida requintada.





O leitor dirá que é assim em qualquer lugar. Não. Ao menos não com uma divisão de espaços tão sutil e ao mesmo tempo tão agressiva. Mais violenta que em outras capitais porém mais sutil por não ser obra do acaso.





É obra, em grande parte, do “administrador Jaime Lerner” idolatrado pela imprensa. Perseguição? Não mesmo.





É só constatar quando tudo começou: em meio às suas duas gestões como prefeito na década de 70. E perceber quando o projeto do “paraíso em meio ao caos brasileiro” começou a dar resultado e ser amplamente divulgado: na década de 90, em mais uma de suas administrações da Prefeitura Municipal.





Discípulos não faltam. O atual prefeito, Cássio Taniguchi, só não tem a cara de Lerner. De resto, poderia ser filho dele.





Quando se deu conta de que a população finalmente se mostrou descontente, já estava no inesperado segundo turno das eleições de 2000. Disputando com – quem diria – o PT de Ângelo Vanhoni. É, aquele partido de descontentes e agitadores. Light, mas PT.





As frases feitas formadas com sujeito, predicado e um “cidade modelo” no meio já não surtiam muito efeito eleitoral. O que fazer? Recorrer aos ensinamentos do mesmo city marketing: as “imagens-síntese” (na prática, os slogans e monumentos) devem ser constantemente recicladas e reelaboradas para se adaptarem ao tempo.





Criou-se então uma nova “imagem-síntese”: o slogan agora era “capital social”. Sim, era chegada a hora de fazer algo pelas classes mais baixas, ainda distantes da Prefeitura e dos altos executivos que fazem cooper em um belo parque curitibano. Mas descontentes.





O segundo mandato do discípulo Taniguchi já está chegando à metade. E a “capital social”? Na próxima vez em que visitar Curitiba, seja altruísta, esqueça o turismo e procure-a nos bairros mais afastados. Talvez lá você encontre. Mas acho difícil.



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