Parecia piada o que eu ouvia de Onaireves Moura, presidente da Federação Paranaense de Futebol. “A pista de cooper está pronta, o estacionamento também, os vestiários e o gramado estão sendo reformados, teremos várias lojas, um ‘shopping da saúde’ com academias, quadras de tênis e futebol soçaite, as arquibancadas serão aproximadas do campo, nele será instalado um ‘centro de treinamento de golfe’...”
Moura falava da milésima reforma pela qual o Pinheirão passaria. Segundo ele, no tempo recorde de sessenta dias tudo estaria pronto, através de um investimento de R$ 1 milhão – “tudo dinheiro da Federação”. Era só acreditar nele para em dois meses poder visualizar um dos estádios mais modernos do país.
Acontece que a entrevista foi realizada em agosto de 2001, aniversário de 64 anos da Federação, logo após o Paraná Clube anunciar que não utilizaria mais o Pinheirão. A reinauguração, prevista para novembro daquele ano, não ocorreu. Foi, provisoriamente, em 2002, em um jogo entre Paraná e Internacional, pela Copa Sul-Minas.
Provisoriamente porque, meio ano após as promessas de Moura, só metade das novas arquibancadas estavam concluídas. Do outro lado do campo, estavam ainda as ruínas do “antigo” estádio. Pois bem, a reinauguração seria então entre Paraná e São Caetano, neste sábado, pela primeira rodada do Brasileirão.
Não será mais, porque a Justiça não vai liberar o uso do Pinheirão até que as obras estejam realmente concluídas e os requisitos mínimos de segurança, atendidos. A partida será no Couto Pereira, estádio do Coritiba, já que o Paraná não pode utilizar a histórica Vila Capanema, que tem capacidade inferior ao mínimo de 20 mil espectadores exigido pelo regulamento do Brasileirão.
Ou seja: exatamente um ano depois do início das reformas, o estádio ainda não está definitivamente pronto. E um ano é um pouco mais que os sessenta dias prometidos pelo Moura.
O pior era ver o início das obras divulgado com entusiasmo pelo jornal “Gazeta do Povo”, de Curitiba. Poderia se pensar que as matérias eram obra de um ingênuo repórter até que se lembrasse que o dono do jornal, Francisco Cunha Pereira, dá nome ao museu do estádio.
Aquelas academias, quadras e outros requintes não estão lá, simplesmente porque poucas empresas se mostraram interessadas na parceria de retornos duvidosos com o Pinheirão.
A rejeição não é novidade. Em dois anos, pode-se contar nos dedos de uma mão o número de partidas lá realizadas. A distância do estádio em relação ao centro da cidade e do campo em relação às arquibancadas motivavam o desprezo dos torcedores. As arquibancadas, além de distantes, eram baixas como numa geral, e de lá não se via quase nada além das placas de publicidade.
Enfim, era um verdadeiro elefante branco, que começou a ser construído em 1970 para ter a inacreditável capacidade de 180 mil pessoas. Logo as obras pararam, mas breves quinze anos depois foram retomadas pelo então recém-eleito Moura – que desde então não saiu do poder –, com uma proposta um pouco mais modesta: 127 mil espectadores.
Depois de sabe-se lá quantas promessas infundadas e obviamente descumpridas, ficou em 55 mil, um número que não deixa de ser alto. Mas para quê, se os públicos do estádio não passavam de três mil pessoas?
Mas tudo bem, chega de reclamar. O Moura está dizendo que ficou pronto e a Justiça é que está complicando. Talvez seja mesmo verdade. Por que eu duvidaria de um senhor que ficou um mês preso por sonegação de impostos e só saiu de lá graças às famosas brechas da lei? Ele deve, sim, estar usando de toda a sua sinceridade, qualidade de quem é um dos melhores amigos de Ricardo Teixeira. De quem só pensa no bem do futebol nunca esteve envolvido em escândalos do mundo esportivo e político.
Desculpe, Moura. Andei muito cético nos últimos sessenta, ou melhor, trezentos e sessenta dias.