Todos os anos, os Correios do Paraná elegem o seu “Atendente Padrão”. No quadro da empresa, atendente é aquele funcionário que trabalha atrás do balcão e lhe atende todas as vezes em que você vai postar uma carta.
Ontem, 30 de outubro, foi comemorado o Dia do Atendente dos Correios. E o escolhido de 2002 recebeu sua premiação, após cumprir uma série de requisitos, que vão de eficiência no atendimento a práticas de cidadania, passando por organização e desenvolvimento pessoal e profissional.
O grande vencedor está há nada menos que 32 anos na empresa. Chama-se Luiz Monteiro e mora em Paranavaí. Obteve nota máxima em todos os conceitos, além de ser amplamente beneficiado pelo relatório escrito enviado por seu gerente.
Recheado de elogios, o texto do gerente nos faz conhecer uma pessoa que, mesmo trabalhando há mais de três décadas na mesma empresa, jamais perdeu a dedicação e a vontade de trabalhar. Que, mesmo não ocupando um cargo administrativo, tomou para si a responsabilidade de desenvolver diversas alternativas de venda para a sua agência, em Paranavaí. Que, indo bem além das funções específicas de seu cargo, sempre representa a agência em feiras, exposições e palestras. Até os concursos de redação realizados em escolas da cidade são organizados por ele.
Enfim, graças ao seu excelente relacionamento com todos os clientes e a comunidade em geral, Luiz esbanjou nota no quesito “práticas de cidadania”. Impossível entrevistá-lo sem ser minimamente contagiado pela sua alegria e disposição. Segundo ele, o segredo foi ter trabalhado todos estes anos “como se tivesse começado no dia anterior”.
No entanto, um observador mais atento notaria que não consta nenhum diploma universitário no quesito “desenvolvimento pessoal e profissional” de Luiz. O que também aconteceu com a grande maioria dos outros atendentes, até porque o cargo não exige tal escolaridade.
Mesmo assim, exatamente por isso Luiz seria alvo fácil de muitas pessoas. Afinal, quem consegue enxergar disposição em alguém que está há 32 anos na mesma empresa, na mesma pequena cidade e que jamais procurou cursar uma faculdade? Para tais pessoas, a mesma humildade que o aproxima de sua comunidade o afasta de qualquer ambição maior. Provavelmente por isso mesmo, jamais passaria de um mero “atendente dos Correios”.
Discurso parecido foi e é ouvido por outro Luiz, o Luís Inácio, desde que concorreu à presidência da República pela primeira vez, em 1989. Mas, no caso dele, a presença de uma ambição maior é que sempre foi alvo de críticas. Onde já se viu, um operário semi-analfabeto, retirante nordestino, querendo governar o Brasil? Que voltasse para a escola antes de tentar qualquer coisa parecida.
Mas desta vez os brasileiros – 98% deles sem diploma – chegaram à conclusão de que o tal curso superior não é, necessariamente, requisito fundamental para um presidente da República. Talvez por estar tão próximo do povo brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva tornou-se sua grande esperança de mudança. Isto provavelmente justifica a maior festa popular que já se viu após a eleição de um novo presidente no país, afinal, o mais brasileiro dos presidenciáveis acabava de ser eleito.
Tanto para Luís Inácio quanto para Luiz Monteiro, pesou mais a proximidade com as pessoas, a capacidade de conversar, de entender. Diploma é importante? Com certeza, e em inúmeras profissões ele é indispensável. Mas às vezes não é suficiente, o que pode obrigar determinadas pessoas a deixarem de lado a prepotência e a suposta superioridade que ele traz. O preparado José Serra que o diga.
Por mais que isto beire o ridículo e lembre máximas de auto-ajuda, é assim mesmo que funciona. Às vezes, é bom deixar a arrogância de lado, também para admitir isso.
Palmas para quem, com ou sem diploma, é feliz e realizado.
Palmas a Luiz Monteiro, Atendente Padrão dos Correios do Paraná. Palmas a Luís Inácio Lula da Silva, presidente eleito do Brasil.