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Artigos-->Cidadão Kane -- 14/02/2003 - 01:20 (Fernando Jasper) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em todas as listas de “melhores filmes de todos os tempos”, Cidadão Kane é presença obrigatória, geralmente ocupando o primeiro lugar. Assistindo-o hoje, no entanto, parece difícil entender o porquê (alguns fazem questão de lembrar que ele sequer ganhou o Oscar de melhor filme na época).



Mas é justamente o fato de ele parecer “apenas mais um filme” que o torna tão bom: suas revolucionárias inovações contribuíram como em nenhum outro filme na construção da linguagem cinematográfica. Amplamente utilizadas no cinema atual, tais inovações fazem-no hoje parecer um filme comum, como tantos outros. Mas em 1941 não era bem assim.



Seu diretor, Orson Welles, não era um profissional do cinema quando o realizou. Tempos depois, creditou também a isso o fato de ser um diretor extremamente original – Welles dizia não assistir filmes de outros diretores para não perder a originalidade. Começou a ganhar notoriedade com sua adaptação para rádio de A guerra dos mundos, e a partir daí recebeu carta-branca da produtora RKO para realizar o filme que quisesse.



Inicialmente, havia pensado em adaptações de livros, entre eles O coração das trevas, de Joseph Conrad (que acabou sendo realizada, quase quarenta anos depois e de forma brilhante, por Francis Ford Coppola em Apocalipse Now). Deixou-as de lado e acabou rodando Cidadão Kane, assinando a co-autoria do roteiro com Herman Mankiewicz. Ambos reivindicam para si a autoria do roteiro (premiado com o Oscar, o único que o filme recebeu). Alguns críticos defendem que Mankiewicz é quem tem razão e só colocou Welles como co-autor porque o diretor fazia algumas alterações no momento de passar o roteiro para a tela.



Entre estudantes de jornalismo, é comum Cidadão Kane ser considerado um filme “obrigatório”, assim como na literatura o seria Chatô, o rei do Brasil, de Fernando Morais. Isso porque, além produções magníficas, têm em comum o fato de serem “biografias” de magnatas da comunicação – Charles Foster Kane (claramente inspirado em William Randolph Hearst) e Assis Chateaubriand.



Segundo Luiz Carlos Merten, ambos os autores utilizam Freud para tentar decifrar a mente de indivíduos tão poderosos, mas que se deterioram ao longo da vida. Em relação a Kane, Merten diz que “da soma dos depoimentos dos personagens – e do movimento final da câmera – emerge o retrato definitivo de um homem que passou a vida manipulando os outros para se compensar de uma perda ocorrida na infância.”



O fundo psicológico, aliás, é freqüentemente utilizado em Kane, tanto na fotografia de inspiração expressionista (visível, entre outras coisas, no abuso de sombras no cenário) quanto no uso de plongées e contra-plongées, reforçando ou minimizando a autoridade dos personagens.

As inovações não se limitam a isso. Começam logo no início do filme, início que na verdade é o fim, algo incomum até então. Kane, ao morrer em seu palácio de Xanadu, pronuncia a enigmática palavra “rosebud”, estimulando um jornalista a pesquisar o seu significado através de diversas entrevistas com as pessoas mais próximas ao magnata. A partir daí, inúmeros flashbacks (também incomuns no cinema da época e que tornam a narrativa não-linear, outra revolução) contam a ascenção e decadência de Kane sob o pretexto de encontrar o significado de “rosebud”.



O detalhe que muitas vezes escapa ao espectador (e parece ter escapado ao próprio Welles) é que nenhum personagem ouve Kane pronunciando sua última palavra. Proposital ou não, o fato é que esse detalhe torna o espectador o único capaz de desvendar o segredo de Kane, o que realmente acontece, ao final do filme – o tal jornalista jamais descobre. Alguns dizem que “rosebud” teria um significado diverso ao do filme. Seria, na verdade, o apelido que William Hearst deu ao clitóris de sua amante, Marion Davies. (Não faltaram, portanto, motivos para que o nome de Welles fosse banido dos jornais de Hearst e depois tenha se tornado alvo de constantes ataques dos mesmos. Kane acabou sendo motivo de glória e maldição para Welles, que acabou perdendo sua liberdade em Hollywood e colecionando produtores e estúdios entre seus inimigos).



Voltando ao aspecto da linguagem: o recurso da mudança de plano para mudar a atenção do espectador é extremamente utilizado até hoje. De acordo com a intensidade da cena, mudava-se também as dimensões do cenário. Merten cita um exemplo interessante: “Para sugerir o progressivo afastamento de Kane da mulher, Welles mostrou-os em diversas refeições. As mesas vão ficando mais compridas, afastando o casal”.



Welles também criou o deep focus, ou foco total, obtido através do aumento da profundidade de campo das lentes. Para conseguir isso, o diretor “inundava” o cenário com luz, permitindo uma abertura mínima do diafragma das câmaras. Como efeito, tudo no cenário permanecia em foco, e as ações poderiam estar bem nítidas tanto no primeiro quanto no segundo plano, o que significou uma alteração brutal no estilo de narrar.



Não é à toa que, também no cinema, Orson Welles passou a ser reconhecido como gênio.

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