A aventura da reportagem, livro de Gilberto Dimenstein e Ricardo Kotscho, divide-se em duas partes, “No olho da rua” e “As armadilhas do poder”, cada uma narrada por um deles. Esta última, escrita por Dimenstein, é uma verdadeira aula de jornalismo, especialmente daquele tipo predominante no Planalto Central: o jornalismo político.
Ao dividir sua parte em pequenos capítulos, cada um falando especificamente de temas como fontismo, off e manipulação, Dimenstein conta detalhes de tudo o que aprendeu fazendo a cobertura do poder e de seus bastidores. E não foi pouco. Trabalhar todos os dias em Brasília, um lugar onde a mentira nada mais é que uma entre tantas estratégias de se obter um bom conceito na mídia, não é tarefa para qualquer repórter.
Lá, o aprendizado no jornalismo só ocorre após muitos e muitos erros. Segundo o autor, ser jornalista em Brasília é ser um aprendiz diário de como evitar armadilhas. Armadilhas nas quais torna-se muito fácil cair quando se mistura pressa, falta de cautela e, especialmente, arrogância. Para Dimenstein, “o jornalista que perdeu a curiosidade, e não tem a humildade de se admitir capaz de levar uma rasteira do imprevisível, é uma presa fácil na guerra da informação”.
Isso é facilmente comprovado em cada uma das curiosas histórias contadas no livro, que têm como personagens políticos até hoje bastante conhecidos do público, entre eles o ex-presidente Fernando Collor e o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, que recentemente renunciou a seu cargo no Senado. Ele, que ultimamente não tem contado com a complacência da imprensa, mas que sempre soube se relacionar muito bem com ela, faz até recomendações a seus colegas do poder: “Há dois tipos de jornalista: os que gostam de dinheiro e os que gostam de informação. Nunca se deve dar dinheiro aos que querem informação. E nem informação aos que querem dinheiro.”
Um dos capítulos mais interessantes é o que fala sobre o off, uma das formas mais eficientes de se publicar uma informação polêmica sobre a qual ninguém quer comentar, mas também a maneira mais fácil de se enganar um jornalista e “plantar notícias”. É um escudo que protege muito mais a fonte – que muitas vezes não tem a melhor das intenções – do que o jornalista, que, se não tiver o cuidado necessário, acabará comprometendo seriamente a credibilidade de seu jornal.
Por tudo isso, Brasília é muito perigosa. Ler A aventura da reportagem é uma boa forma de, ao menos, chegar lá minimamente prevenido. Afinal, a cidade serve de palco para as encenações de inúmeros deputados, senadores, ministros e afins, cada um aparentando ser mais bobo que o outro. Mas, como diz um dos personagens do livro, “o mais bobo deles conserta um relógio no escuro. E com luvas de boxe.”