Quem foi que disse que eu disse o que disse, pois, se alguém disse que eu disse, nego até a morte, e não me responsabilizo com nada do que disse. Pois, se o disse foi num momento de forte pressão e insinuação. Já ouvi até mesmo dizerem que na Bíblia está escrito que aos que não tiverem pecado, que atirem a primeira pedra. Pois, nem mesmo acredito em nada disso, pois tenho vários pecados, e mesmo assim, ainda atiro minhas primeiras pedras. Acredito em talhados de vidro, pois, sua simples existência, inibem-me de atirar minhas pedras nos telhados de vidros alheios. Sigo trafegando imerso nesta contradição eterna, de que todos possuímos nossos telhados de vidro, e possuo a certeza de que ao quebrantar o telhado alheio, estarei sujeito a ter meu próprio quebrantado.
Porém a maior certeza de todas, é que todos, e sem exclusão alguma, pois, ainda existem os santos, os bem-feitores, os bem quistos, os puros, e heróis, mas que sempre possuem arestas livres de vigília e recobertas por telhados de vidro. Procuro julgar não julgar, pra não ser julgado, pois, nada pior do que ser primariamente julgado, sem a mínima possibilidade de defesa. Já que ao defender-se, podes acarretar suspeitas quanto sua inocência, e que o simples fato de defesa, possa infundir um juizado de culpa num pobre réu, como eu. Pois, se tenho telhados de vidro, procuro evitar as travessuras, as partidas de futebol, as rinhas de moleques, e até as mais insistentes provocações.
E se venho por meio desta atribuir nome aos bois, e cagüetar os displicentes, temo por acabar fazendo parte da mesma boiada, e não por displicência, nem por falta de decoro, ou excesso de grosseria, mas por covardia de anteriormente não ter apontado os bois, marcando-os a ferro e a fogo. Creio porém, que a existência dos telhados de vidro, esteja fortemente vinculada à convivência em sociedade, e a necessidade de mostrar-se firme e forte, puro e limpo, austero e perfeito, enfim, um modelo para a sociedade. Não conheço ninguém assim, e confesso que nem mesmo o sou. Portanto, chego aqui para afirmar a existência dos telhados de vidro, por onde adentram as pedras dos seres indignados que também possuem seus próprios telhados de vidro, e que atirem a primeira pedra, quem não os possuir.