Estavam todos de frente para a praia, e as ondas lambiam deliciosamente as areias já escaldadas pelo intenso sol de meio dia, mas tinham a bandeira vermelha. “Não importa”, diziam os mais afoitos a mergulharem num vasto mar de possibilidades e cheios de energia. O fim de tarde era reluzente e brilhante, pintando o céu de cores vivas e incandescentes, que fosforeciam com a menor incidência de luz. No fundo da aquarela salgada, jaziam pepitas de marfim revestidas em ornamentos lúdicos, que remetiam aos seres longíguos do fundo do mar. Alguns apressavam-se em dizer que eram os jardins do polvo gigante, enquanto outros avistavam a perdida civilização de Atlantis, os mais antigos, lembravam-se dos contos da Carochinha e as fábulas do fundo do mar, e de sobra, os mais científicos, exaltavam-se com a observação das algas, das estrelas, dos caramujos, caranguejos, camarões, e ostras, dos peroás, dos badejos, dos salmões, das percas, e tubarões. Pois, que seres maravilhosos eram aqueles, seres cartilaginosos e desprovidos de ossos, aqueles dois olhos negros e sua aerodinâmica infalível. Ah... carcaradon-carcarius, eram vocês os piores temores dos eventuais afogados que por ali transitassem.
Não sei quanto aos carcaradons, mas eram milhares os afogados. Traziam semblantes calmos e tranqüilos, alguns de morte natural, outros de morte matada, e muitos outros de morte súbita, como num estampido sonoro de clarividência inoportuna. Traziam como vestimentas, as algas marinhas, os mariscos foscos, os colares de pérolas brancas e límpidas, e o musgo aquático incrostado na pele. Pois, se não encontramos os Leonardos da Vincis, os Huxleys, Borges, Pessoas, Márquez, os Learys, Keruaks, Moriartys, e Cassadys, foi por desencontro. Pois, encontramos os Poes, os Wildes, Fellinis, Kantis, Camões, e até mesmo os Homeros. Mas foram os Joyces que nos explicaram “que o infinito é o número oito em pé, vivo e infinito”. Disseram também que “Ulisses é o seu infinito pela metade, e que a outra metade é seu além ser”.
Com muito custo viajamos entre águas profundas e impenetráveis, ao depararmos com criaturas imagináveis somente na mentalidade infantil dentro de todos nós, e há muito esquecida no fundo do baú das memórias. Eram criaturas translúcidas e transparentes, e cheias de luz, que chegavam a refletir seu interior. Algumas jaziam imóveis e flutuantes, enquanto outras nadavam livremente num balé néon e lusco-fusco. Faziam cículos entre as outras e giravam por toda parte em busca de meior iluminação. As que jaziam imóveis, flutuavam piscando, piscando, piscando, e piscando, e naquela imersidão, onde nem mesmo os afogados penetravam, refletiam a sinfonia marítima de Poseidon. Eram apavorantes, ou não... Eram cachorros babuchos, ou não... Eram seres longíguos do fundo do mar, ou não... Eram o sim, ou o não... Vai ver teríamos uma bad trip, uma onda errada, uma auto-alucinação, ou uma indução... Mas eu tomei um pedacinho igual aos seus...