À primeira vista pode parecer incoerente querer traçar um paralelo entre duas coisas aparentemente tão diversas como espiritismo e evolucionismo; contudo, existem pontos de contato e similaridades que não podem ser desprezadas.
O espiritismo, desde seu nascimento, com Allan Kardec, pretende dar um ar cientifico às suas crenças, baseando-se principalmente na teoria da evolução de Darwin. A noção de evolução em Darwin simplesmente biológica, passa a ser encarada como uma "evolução espiritual" continuada, que sempre avança em direção a um patamar superior, progredindo sempre, nunca regredindo para uma "condição inferior".
A alegação evolucionista de que os organismos superiores foram formados por seleção natural a partir de mutações dos organismos inferiores tem seu paralelo no "progresso espiritual" defendido pelo kardecismo. "Espíritos superiores" obrigatoriamente ocupariam corpos superiores; daí o racismo patente das gnósticas idéias espíritas.
Mas de onde viria o espírito "encarnado" num "bruto", ou selvagem, considerados pelos espíritas na "infância espiritual"? Este "espírito" viria – pasmem – dos animais superiores, como os mamíferos, por exemplo.
Os espíritas acreditam que os animais têm alma, uma "alma evolutiva" como diz o "Livro dos Espíritos", escrito por Allan Kardec:
"Já não dissemos que na natureza, tudo se encadeia para a unidade? Nestes seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente (sic) se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação (mutação?) e se torna Espírito. Entra então no período de humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal..." (Livro dos Espíritos, parte II, capítulo XI, tópico 607).
Olhando de uma maneira divertida para esta afirmação absurda, teríamos:
No Evolucionismo:
Ameba -> peixe -> sapo -> preá -> macaco -> homem
No Espiritismo:
Alma da ameba -> alma do peixe -> alma do sapo -> alma do preá -> alma do macaco (poderia ser do cachorro?) -> espírito do Zé.
Poderíamos acrescentar que -- de acordo com o racismo de Kardec e não nosso, pois repudiamos todo racismo -- certas etapas entre o macaco e o Zé:
Alma do macaco -> espírito do Zé aborígene -> espírito do Zé negro -> espírito do Zé asiático -> espírito do Zé caucasiano.
Os espíritas entendem, obviamente, que os animais não têm livre arbítrio, e que não podem ser responsabilizados por seus atos. Isso leva a um impasse, pois como poderia haver "evolução espiritual" para os animais?
Tal questão é remendada por um estapafúrdio Bureau do Além, onde Espíritos (ou burocratas do além) resolveriam o problema:
"... O espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõem os animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do espírito. O do animal, depois de sua morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe esta tarefa (os despachantes extra-corpóreos) e utilizado quase instantaneamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas(?)" (Livro dos Espíritos – parte II, Capítulo XI – tópico 600).
No evolucionismo, o "acaso" faz com que os animais evoluam.
No espiritismo, os defuntos despachantes fazem com que as alminhas dos animais evoluam...
Quando uma "alma animal" supostamente "evolui" para uma alma humana, esta poderia guardar alguma característica do período animal:
" ... Durante algumas gerações, pode ele (o espírito humano) conservar alguns vestígios mais ou menos pronunciados do estado primitivo, porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição (como diria Darwin) " (Livro dos Espíritos – parte II – cap. XI, tópico 609).
Isto então explicaria algumas expressões que usamos como: "fulano come como um cavalo", ou "cicrano é um porco", ou outras coisas mais que o pudor me impede de mencionar.
Podemos portanto, dizer que o espiritismo é um sobrinho pobre da gnose, que usa de recursos pseudo-científicos retirados da malfadada e desacreditada teoria da evolução das espécies (que hoje se transformou em outra espécie de religião, por sinal).
Cabe aqui observar que a Igreja Católica sempre ensinou que os animais, as plantas e os minerais estão destinados ao bem comum da humanidade. Os animais, por sua simples existência, bendizem e dão glória a Deus. Não moralmente, pois não têm racionalidade, nem livre arbítrio. A Igreja também ensina que é contrário à dignidade humana fazer os animais sofrerem inutilmente e desperdiçar sem razão a sua vida.