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Artigos-->A Guerreira contra os Tabus -- 26/02/2003 - 23:30 (Fernando Garcia de Faria) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Foram poucas as mulheres que entraram para a história resistindo à ordem estabelecida como Francisca Edwiges Neves Gonzaga. Chiquinha foi feminista no tempo em que a mulher estava longe de ser cidadã. Foi abolicionista e republicana quando esses assuntos só podiam ser discutidos em sociedades anônimas. Já no fim da vida não mais caberia, àquela velhinha sorridente de vestido escuro, o título de subversiva.



Chiquinha teve berço de classe média, filha de um militar e uma mestiça, foi educada para ter bom casamento, servir ao seu marido e criar os filhos. Aprendeu a tocar piano cedo, a ler, escrever, inclusive em outras línguas, pois era assim que se educava menina “de família”. Aos treze anos casa-se com o oficial da marinha mercante Jacinto Ribeiro do Amaral, com quem passa a ter problemas pelo tipo de música que compõem e reproduz.



Em 1865, foi para o sul do país acompanhar o marido na Guerra do Paraguai. Lá ficou longe do piano e de seus amigos, músicos boêmios. Viu como os negros “voluntários da pátria” eram tratados e criou um sentimento de revolta contra o império e o escravismo. As crises conjugais eram constantes e seu casamento ficou bastante abalado.



Nessas condições ela volta para o Rio de Janeiro decidida a sair da casa de seu marido. Levou consigo seu filho mais velho João Gualberto. A filha, Maria do Patrocínio, foi ser criada na casa dos avós maternos. E o terceiro, Hilário, nasceu após a volta de Jacinto da Guerra numa breve tentativa de conciliação do casal.



Nesta fase, morando em pensões e já rejeitada pela família, Chiquinha se dedica a compor, tocar em festas e dar aulas de piano. A compositora estava livre dos laços que a submetiam, a vida boêmia enaltece seu lado criativo e sua convivência com grandes músicos e artistas da época. Entre eles, vale ressaltar, o nome de Joaquim Antonio da Silva Callado, flautista renomado e admirado pelo próprio Imperador D. Pedro 2º. Foi Callado que introduziu Chiquinha nas rodas com os chorões, por meados de 1869.



Nesta época, a unidade nacional estava assegurada pelos latifundiários que haviam descoberto que o café brasileiro tinha grande aceitação internacional. Mas a monarquia mostrava fragilidade e a escravidão também, principalmente depois do fim do tráfico negreiro em 1850 e a ampla campanha abolicionista. A vida urbana começou, então, a aumentar e milhares de imigrantes adentravam no país à procura de trabalho.



A compositora



Em 1877, Chiquinha consagrou-se como compositora lançando a polca “Atraente”. Em menos de nove meses já chegara à 15ª edição, um sucesso nas casas e cortiços do Rio de Janeiro e outras províncias do país. Uma parte da distribuição era feita por filhos de escravos que percorriam a capital para vender as partituras. Alguns dos moleques foram agredidos por familiares da compositora, que acreditavam que ela estava sujando o nome da família Gonzaga.



No mesmo ano foram publicadas outras composições como “Desalento”, “Não Insistas”, “Rapariga!” e”Sedutor”.



Chiquinha e sua geração desenvolviam um estilo à brasileira, chorado e de espírito alegre, provocador. Suas músicas saíam dos pianos importados e dos assovios das bocas de poucos dentes. Os atingidos pelo estilo musical novo e nacional se queixavam da falta de classe das músicas e quando não tinham o que dizer duvidavam de que uma mulher teria composto. Calúnias foram disseminadas duvidando da sua autoria e mais ainda sobre sua vida particular.



Em 1883, Chiquinha começou a musicar peças de teatro de revista, sua estréia foi “Viagem ao Parnaso”, de Artur de Azevedo. Dois anos depois, regeu pela primeira vez uma orquestra em “A Corte na Roça”, de Palhares Ribeiro; onde enfrentou a dificuldade de muitos empresário não aceitarem dar patrocínio a um espetáculo em que uma mulher regesse músicos homens.



No mesmo ano, compôs e regeu “A Filha do Guedes”; em 1886, “A Mulher Homem”, “Há Alguma Novidade?” e “O Destino” e em 1887, “Zé Caipora”. Essa produção intensa só vai cessar em 1933.



Ao mesmo tempo, em que sua carreira decolava e ia ficando conhecida e requisitada, Chiquinha fazia apresentações e vendia composições para arrecadar dinheiro à Confederação Libertadora, entidade abolicionista que comprava alforrias de escravos e promovia reuniões e comícios. Junto com ela participavam outras personalidades como Lopes Trovão, Paula Nei, José do Patrocínio, entre outros.



Após a abolição ela se engajou na luta pela República fazendo discursos e enfrentando a polícia. Em 1893, desiludida com os rumos da República compõe “Aperte o Botão” cujas partituras foram apreendidas por ser considerada “abusiva”.



Ao todo, foram 77 peças musicadas e entre suas composições mais conhecidas estão “Atraente”; “Casa de caboclo”, com Luiz Peixoto; “Gaúcho”, também conhecida como “Corta-Jaca”; “Faceiro”; “Falena”; “Lua Branca” e “Ó abre alas”. A obra abarca diversos gêneros, como polcas, maxixes, lundus, valsas, serenatas, músicas sacras, marchinhas, fados e tangos.



Felicidade x Tabus



Chiquinha se comportava como uma guerreira na luta contra os tabus. Aos 52 anos, em 1899, inicia o relacionamento, que vai durar até o fim da vida, com o jovem João Batista Fernandes Lage de 16 anos. Em 1920, redige carta aos filhos pedindo que em sua lápide esteja escrito: “Sofri e chorei”.



Chiquinha morreu em 28 de fevereiro de 1935 deixando gigantesca herança aos brasileiros daquela geração e das posteriores.



Sua obra no carnaval



A primeira marchinha de carnaval registrada é a mais conhecida de Chiquinha, “Ó abre alas”, de 1899. Sua letra mostra como eram caóticos os ambientes carnavalescos naquela época, que não havia organização nas ruas. Os foliões jogavam papéis e água uns nos outros na cadência de batidas secas dos bumbos africanos, durante as passeatas pela capital.



Sua gravação original só foi feita em 1971 por Linda e Dircinha Batista, apesar de ter sido cantarolada em gravações anteriores. Mariza Lira, uma de suas biógrafas, afirma que a música foi encomendada por integrantes do cordão Rosas de Ouro, o que é contestado pelo jornalista Jota Efegê.



Durante muitos anos, a música foi preferida nos carnavais e, ainda hoje, sua melodia é lembrada como símbolo do carnaval nas ruas e salões pelos foliões brasileiros.



Veja a letra:



Ó abre alas

Que eu quero passar

Ó abre alas

Que eu quero passar

Eu sou da Lira

Não posso negar

Eu sou da Lira

Não posso negar



Ó abre alas

Que eu quero passar

Ó abre alas

Que eu quero passar

Rosa de Ouro

É que vai ganhar

Rosa de Ouro

É que vai ganhar







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