“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais noutro tempo foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água.” (I Pedro, 3: 18-20). “...hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos; pois, para este fim foi o evangelho pregado também aos mortos” (I S. Pedro, 4: 5, 6).
OS MORTOS NÃO EXISTEM MAIS?
“Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tão pouco terão eles recompensa, porque sua memória jás no esquecimento” (Eclesiastes, 9: 5). “no além, para onde vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma” (Eclesiastes, 9: 10).
Como Cristo poderia pregar aos espírito dos que foram desobedientes enquanto Noé preparava a arca e é a própria Bíblia que afirma que “os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma”? De que adianta pregar para quem não sabe de nada? Pertencente a uma religião que não aceita a existência desse espírito, para mim as palavras de Salomão eram confirmadas na maior parte da Bíblia, porém, ninguém me explicava convincentemente as de Pedro, e acho que jamais podemos harmonizá-las.
Se Salomão estiver certo, Pedro está enganado. Se Pedro estiver certo, enganado está Salomão. Logo, não se pode dizer que tudo que está na Bíblia é verdadeiro. Se umas coisas não são verdadeiras, não podemos garantir a veracidade de outras.
A CAUSA DA CONTRADIÇÃO
No tempo em que foi escrito o livro de Eclesiastes, atribuído a Salomão, os hebreus não tinham a crença na ressurreição, nem na imortalidade da alma. Todavia, durante o cativeiro babilônico, parte deles assimilaram a crença da ressurreição. Os fariseus aceitaram a crença, e os que não a adotaram são os saduceus. A teoria da ressurreição foi a base para que os seguidores de Jesus utilizaram para passar ao mundo a idéia de que ele fosse o messias prometido pro Miquéias, messias esse que deveria surgir nos dias da Assíria. Muitas partes dos evangelhos dão a entender muito claramente que o morto esteja inconsciente mas um dia ressuscita. Em outros lugares, aparece a idéia de que os mortos estão conscientes em uma forma de existência diferente, como é o caso da carta de Pedro. Segundo o Evangelho de Lucas, Jesus teria dito: “Olhai as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede; porque um espírito não tem carne nem ossos, como percebeis que eu tenho” (Lucas, 24: 39). Isso mostra que o autor do texto, além acreditar na ressurreição, cria também na existência do tal espírito imaterial a sobreviver ao corpo depois da morte.