Ora, como o pessoal está articulando muito certinho, remédio melhor não tenho do que empurrar pé dentro de fila e seguir bailando ao mesmo ritmo.
A aragem desliza gostosa e todo eu me imagino "viniciando" uma modinha em roufenha melodia à ilharga de Toquinho. E vou...
Vou pedindo erva verde
Com florzinha amarela
A sorrir nas costas dela
Para lá e para cá...
Para lá e para cá...
Como o vento
Como o tempo
Com o cheirinho de alento
Para morrer sem saber!
Cheira-me a feijão fervendo em panela de ferro negro-negro sobre chama lambendo o bordo como que a provar se está bom de sal. A orelheira aguarda brilhante, polvilhada de alho e louro, o mergulho exacto na imolação borbulhante.
Um neguinho de olhar amêndoado dâ-me bençãos de infância, muito lisinho de rosto, cabeça de pérola azeviche a pedir festinha de mão plena de pecado que anda saudosa de pureza sem dúvida.
E vou... Buraco a buraco, calçada abaixo, levado pelo ouvido cofiado na direcção da zabumba, soerguido como sardinha que fosse à tona do cabaz buscar, pelas pontas de dedos morenos, a brasa viva da vida até à salvação num céu de boca a pedir mais delícia paradisíaca ainda...
Vou... E não quero mais nada do que estar aonde estou e ir indo... Ir indo sem saber para onde vou e de vez deixar este resto de carga que me ensombra e assombra a vontade de viver.
Ah... Não levo máscara... Já não preciso... Já não tenho nada para esconder... E se vou ainda vestido é porque os outros não querem que vá nu... Tal e qual como esplêndidamente cheguei a esta incrível barafunda onde sigo bailando...
Para lá... E para cá...
Para lá... E para cá...
E manifesto-me, muito antes de Cristo, numa eventual saturnália, ao deus dos supremos bacanais em via pública, também ainda aquém de Sodoma e Gomorra, antes um milénio dos censores que queriam salvar o mundo e apontavam aos irmãos o planeta do bem estar... Enfim, como a cambada que aqui está agora a meu lado a banhar-se na saliva da avidez e na quarta feira me imporá em silêncio a morte à sede... O sacrifício de me negar ao que quero...
Para lá... E para cá...
Para lá... E para cá...
Até que finalmente me dessedente... Me descarne... Tic... Toc... Tic... Toc...
Torre da Guia
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