Se houve alguma coisa boa na overdose de tribalismo e na fama da eguinha pocotó, de certo esse benefício foi ocupar tanto o espaço da programaçào musical que acabou "ocultando" outras infelizes novidades. No caso, a (sic) música do "Sandy" Júnior, "Super-Herói (Não é Fácil)". Já que encontrar felizes novidades no meio musical é cada vez mais dificil, o excesso de lixo causaria um entupimento nas artérias do mercado?
O lixo pode até passar, mas o chorumi fica. No primeiro, digamos, verso, da primeira, por assim dizer, estrofe, o filho-sertanejo humildemente avisa: "Não quero imitar Deus ou coisa assim". Mas é só o começo. Depois de tanto se prostituir, virar fantoche nas mãos da Globo e gravadores, ele se auto-define herói e revela que não quer "ser mais um rosto no comercial", e enfim, coitadinho, confessa: "não é fácil viver assim". Desculpem o clichê, mas não há como fugir: pobre menino rico...
Ao pé da letra, se o rapaz está crescendo e querendo tomar as rédeas do próprio destino, devemos então aguardar a próxima atração: em breve "Sandy" Júnior cortando cana, morando debaixo da ponte, cheirando cola, e não se admire se algum dia ele trocar os palcos pelo sinal de trânsito. Deve ser mais fácil viver assim.
No fim (ufa!) de sua (sic) canção, "Sandy" Júnior faz uma revelação bombástica na poesia: "...agora eu sei que o meu papel, não é ser herói no céu. É na Terra que eu vou viver". Das duas uma: ou o sucesso subiu muito à cabeça, ou ele se interessou pela música durante a abstinência de alguma substância... fico com a segunda hipótese levando-se em conta que logo em seguida ele canta: "Eu não sei voar, isso é ilusão...".
Pior que isso só ligar a TV no domingo e ver no programa "Jovens Tardes", da Rede Globo, os "ídolos" de hoje "fazendo uma homenagem" aos ídolos (sem aspas) de ontem. Deveria haver uma lei proibindo esse tipo de atitude - perdoem-me aliar o termo "atitude" aos respectivos sujeitos. Como espécies de anti-Midas, é incrivel a capacidade que têm de estragar clássicos e torna-las intragáveis, de dar náuseas. Na "homenagem" ao rock (pobre rock n roll, deixo-o descansar em paz...), as náuseas vieram ainda acompanhadas de overdose de risadas, quando os palhaços se caricaturaram de rockeiro rebelde. Francamente, deve rolar muita grana... ou idiotisse. Ou ambos.
Aliás, as "homenagens" também estão cada vez mais questionáveis. Qualquer sanguessuga anti-talento que, para reerguer-se nas paradas de sucesso, grava uma canção de grande sucesso em outros tempos, intitula essa necrofilia absurda de "homenagem". Seriam "músicas que influenciaram a carreira"? Tudo bem que a globalização está em alta, mas daí a querer convencer que hard rock influencia sertanejo já é demais, como por exemplo, a "homenagem" que "Cleyton & Camargo", ou algo que o valha, fizeram para a música "Still Loving You", dos Scorpions, transformando-a em "Meu Anjo Azul". Bizarro.
Levando-se em conta o caráter puramente comercial de todo esse lixo descrito acima, o mais desanimador talvez tenha partido da revista Veja. As chamadas "páginas amarelas", notoriamente ocupadas por pensadores, políticos, enfim, com quem tem algo a dizer, foi invadida por nada mais nada menos que a "filhósofa" Wanessa Camargo. Depois de relinchar suas asneiras, o cúmulo ficou por conta da edição seguinte da revista: a entrevista teria sido o assunto mais comentado pelos leitores e, ao menos segundo as cartas que foram publicadas, a grande maioria elogiosas. É de cortar os pulsos... mas antes, está respondida a indagação do primeiro parágrafo: as mer... cadorias têm livre acesso. O lixo passa, mas o chorumi se propaga.