Às vezes, pode até parecer que não se tem outro assunto a não ser a guerra dos EUA contra o Iraque; mas é que também, às vezes, não se consegue ficar calando diante de certas coisas. E eu não posso ver um absurdo, como as justificativas americanas, e ficar calado.
A verdade é que já não sabemos mais quem é o bandido e quem é o mocinho nessa guerra. Aquilo que parecia, não é mais. De um momento para outro, Sadam Hussein, a quem acusavam de ser um ditador sanguinário, capaz de destruir meio mundo, possuidor de imensos arsenais de armas de destruição em massa, passa de acusado a vitima; enquanto os EUA, a nação mais democrática do mundo, guardião da paz mundial e protetor dos fracos e oprimidos se transforma de mocinho em bandido. Por quê essa inversão de papeis?
A resposta é muito simples: O mundo começou a perceber que quem deseja a guerra, quem é intransigente e não liga a mínima para as nações amigas não é o ditador do Iraque, mas sim o democrata George W. Bush. De repente o mundo começou a ver que os iraquianos idolatram seu governante enquanto os americanos começam a protestar contra o seu; de repente, nós ocidentais, começamos a perceber que o nosso conceito de democracia é diferente para os povos islâmicos; de repente, começamos a ver que é bom para nós não necessariamente é bom para eles.
Até agora não se viu em momento algum os EUA cederem um milímetro se quer na sua obstinação em derrubar o governo legitimo do Iraque. Pelo contrário, vimos sim o presidente iraquiano, ceder as pressões e colaborar com os inspetores da ONU. Claro que isso só aconteceu depois de muita pressão. Mas se as pressões funcionaram até agora, por que não continuar com elas ao invés de uma guerra? Só para justificar os bilhões de dólares desperdiçados no envio de tropas ao Golfo Pérsico? Ou os EUA estão querendo usar a guerra como uma desculpa para o seu eminente colapso econômico?
O que parece é que os EUA não têm alternativas. E por isso, mesmo que o Iraque faça tudo que a ONU pediu, vai ser atacado porque os EUA não podem mais recuar. Agora a questão não é mais se o Iraque é capaz de evitar ou não a guerra. Ele está fazendo sua parte, a ONU não vai aprovar uma resolução contra os iraquianos, mas mesmo assim os EUA, em sua obstinação, vão atacar. E quem vai pagar o preço são o povo iraquiano, algumas dezenas ou centenas de soldados americanos e ingleses, e os países em desenvolvimento. Não foi por acaso que o presidente Lula alertou o primeiro ministro britânico sobre justamente esse ponto.
O que podemos fazer é ficarmos indignados e prepararmos para as conseqüências econômicas. Porque o resto está nas mãos do Sr. Bush, detentor do poder de decisão sobre nossas vidas.
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