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Artigos-->Uma cidade ao redor do livro -- 16/03/2003 - 15:25 (Sandra Regina Sanchez Baldessin) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Que a leitura se constitui na principal ferramenta da educação é fato incontestável. A palavra escrita ainda é o grande veículo que permite o desvendamento do mundo.

Entretanto, é comum ouvirmos que vivenciamos uma época em que predominam as imagens e a linguagem televisiva. Esse também é um fato inegável, mas que não pode ser utilizado como desculpa para a negligência com o livro.

Temos que considerar que o texto escrito concede ao leitor a possibilidade de reflexão, de interiorização das idéias nele expostas. Sobretudo, é necessário que compreendamos que a leitura é um ato de prazer.

Alberto Manguel - ensaísta canadense - especialista no tema, em seu livro “Uma História da Leitura” explica-nos que não temos a capacidade para transformar uma criança num leitor; a nossa grande tarefa é disponibilizar a literatura, colocando-a ao alcance delas, ao mesmo tempo em que relacionamos esse processo de aprendizado com o prazer e não com a obrigação. Lendo as premissas defendidas por Manguel, lembrei-me de uma história contada por minha avó paterna.

Segundo ela, antigamente, nas comunidades judaicas existentes nas províncias espanholas, quando uma criança era iniciada no processo de alfabetização e leitura, logo no primeiro dia de aula praticava-se um ritual familiar: bolos e pães de mel eram oferecidos especialmente à criança, simbolizando dessa forma o princípio de uma fase agradável em sua vida. Nunca apurei se realmente isso ocorria, mas, ainda que seja uma lenda, que bela mensagem contém!

É interessante notar que países como os Estados Unidos, os quais já possuem uma longa tradição na formação de leitores, ainda assim se preocupam em descobrir novas estratégias e viabilizar projetos para incentivar a leitura.

Em Chicago, cidade americana com aproximadamente três milhões de habitantes, em 2002, a prefeitura lançou o programa “Um livro, uma só Chicago”, desafiando os habitantes a mergulharem na aventura de uma leitura coletiva de um mesmo romance e dividir suas reações com os concidadãos.

O projeto pretendia que os habitantes abandonassem a televisão e os jogos eletrônicos para se concentrarem em "To Kill a Mockingbird", de Harper Lee, um romance sobre o racismo e os preconceitos num povoado de Alabama, no sul dos Estados Unidos, durante os anos 30. O livro conquistou o prêmio Pulitzer e vendeu 30 milhões de exemplares desde sua publicação em 1960.

Segundo os indicadores, em apenas uma semana de instalação do programa as bibliotecas de Chicago emprestaram mil volumes do romance, as livrarias da cidade solicitaram centenas de exemplares e o livro foi inscrito nos cursos das escolas públicas.

Além do mais, aconteceram encontros e reuniões em bibliotecas, centros comunitários, museus, escolas, livrarias, com a finalidade de discutir o livro de Harper Lee. O filme baseado no livro, produzido em 1962, também foi exibido e até mesmo o tribunal de Chicago simulou um julgamento para evocar a história do personagem principal do romance. Temos o retrato de uma cidade reunida em torno de um livro.

Para nós, brasileiros, parece um sonho, já que, infelizmente, temos um grande número de pessoas com um grau razoável de escolaridade mas que não se importam com a cultura, favorecendo que a “globalização” coopere para a desintegração de um pensamento verdadeiramente nacional.

depende de cada um de nós, acreditar que podemos mudar esse paradigma!



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