Com letras garrafais, como as de cima, têm sido espalhados pela nossa cidade ao longo dos anos, principalmente nos últimos dias, uns pequenos panfletos distribuídos por variadas ditas espíritas videntes, prometendo a deus-e-a-todo-mundo soluções para qualquer tipo de problema de qualquer natureza. Eles sempre trazem escrito com destaque, também, “CONSULTA AO ALCANCE DE TODOS”, insinuando que ela é acessível a todos e barata, pelo suposto préstimo que possa trazer.
Em todas as épocas da história, o homem sempre tem patenteado o mais vivo interesse em perscrutar o futuro. Teima em lê-lo nos roteiros das constelações siderais, no vôo das aves, nas linhas das mãos, nas bolas de cristal, nas entranhas de certos animais, nas figuras de baralhos especiais, nas conchas marinhas, nos movimentos do pêndulo, enfim, de mil maneiras se empenha por sondar algo sobre as brumas do porvir. Mas haverá alguma possibilidade de êxito nessa tenebrosa busca? Há, pois é notório existirem, pessoas chamadas metagnomos, dotadas de uma percepção invulgar, o que denominamos em Parapsicologia de precognição, mediante a qual são capazes, em certas ocasiões ESPONTÂNEAS: de ver, de ouvir, de sentir, de conhecer e, por conseguinte, de predizer acontecimentos futuros, sem haver nisso absolutamente nada de “astral”, nada de mediúnico, nada de preternatural ou sobrenatural.
Trata-se de uma faculdade concedida, em grau mais perfeito, a relativamente poucas pessoas, da mesma forma como poucos são os grandes músicos ou gênios em matemática e idênticos.
Há também muitas explicações normais de aparentes precognições, como seja um condicionamento psíquico, uma auto-sugestão ou uma heterosugestão, de sorte que as pessoas condicionadas num determinado sentido vão instintivamente ao encontro daquilo que temem. Não fosse essa preocupação e o evento não aconteceria. Muitas interpretações de acontecimentos futuros se estribam nessa falsa base, ou então em outras desse jaez, tais como fraude, astúcia, estilo vago ou ambíguo, casualidade e inibição.
Uma fraude acontece, por exemplo, se alguém profetiza um acontecimento determinado e ele mesmo, ocultamente, toma todas as providências para garantir o cumprimento de sua “profecia”. Estilo vago e ambíguo temos em grande escala nos horóscopos de nossos jornais, rádios, revistas e outros meios de comunicação social. E como nosso povo se deixa iludir com tais artimanhas! Não somente iludir-se, mas escravizar-se e, não raro, se tornam vítimas desses irresponsáveis.
Um caso clássico de estilo ambíguo nos fornece o episódio daquele soldado, em véspera de partir para o “front”. Foi ter com uma vidente para saber se voltaria vivo ou se haveria de morrer. Nesta suposição deveria deixar tudo em dia com relação à herança, testamento etc., para evitar futuras intrigas de família. A vidente lhe disse: “Irás voltarás nunca perecerás na guerra”.
O homem interpretou tudo em seu favor, mas não se deu conta que a frase não tinha vírgulas. Voltando, triunfa a vidente. Pois eu predisse: “Irás, voltarás, nunca perecerás na guerra”. Perecendo no ardor da luta, e a família reclamando, a vidente dirá: “Não, vocês não compreenderam o que eu disse e escrevi. Foi o seguinte: ‘Irás, voltarás nunca, perecerás na guerra’ ”.
Pondere o leitor a esperteza do estilo vago e ambíguo. Os videntes, cartomantes, sortistas, horoscopistas, astrólogos e idênticos, são mestres no arranjo de frases que lhes possibilitam, ao depois, “tirar o corpo fora”. O mundo quer realmente ser iludido. E os espertalhões contam com a ignorância e a credulidade das massas.
Por Luiz Roberto Turatti, aluno do Centro Latino-Americano de Parapsicologia, CLAP (www.clap.org.br), dirigido pelo Prof. Dr. Padre Oscar González-Quevedo, S.J.
Esse artigo já foi publicado em:
- “Tribuna do Povo”, Araras/SP (Brasil), domingo, 22/8/1993;
