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Artigos-->Quantas serão as rosas de Bagdá? -- 26/03/2003 - 16:55 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quantas serão as rosas de Bagdá?

Athos Ronaldo Miralha da Cunha



Não queria mais escrever sobre a guerra, pois é triste e deprimente. O sentimento de impotência é avassalador e angustiante. Mas não há como relegar esse tema a um plano secundário. A guerra está ao nosso alcance. Está indagar-nos sobre a condição humana. Que tipo de civilização nós somos? Fico temeroso em responder essa pergunta porque as respostas podem nos transformar em ratos.



E, indignados, escrevemos. Por mais estupefatos que estejamos, não conseguimos dar o tamanho real dessa estupefação num único texto. O texto fica sempre antigo e incompleto à medida que a guerra toma as formas da barbárie e mostra a face mais cruel da impudência.

Distante do Golfo a nossa única arma é a indignação e a revolta diante das atrocidades cometidas pelas chuvas de bombas e mísseis. Como exprimir a desumanidade em palavras que digam mais do que a foto ou o vídeo? Como sermos mais emotivos que a voz do barítono Cid Moreira? A nossa expressão fica aquém da amplitude dessas desgraças com o povo iraquiano.



Quando abrimos o jornal ou vemos as noticias via satélites presenciamos o sofrimento e a desesperança estampados nos olhos de um povo. Impossibilitados e resignados com a nossa impotência resta-nos a indignação. E essa nossa revolta e a nossa extrema atitude.



A manchete não deixa dúvidas: “Militares da coalizão matam centenas de iraquianos perto da cidade de Najaf”.

Até o momento, no combate mais sangrento estima-se que morreram entre 150 a 500 soldados de Saddam Hussein. Admitidos pelos EUA, apenas baixa de blindados.

Uma tempestade de areia dificultou o avanço do comboio anglo-americano em direção a Bagdá. Um alaranjado tomou conta do deserto e uma silhueta dos tanques e soldados eram vistas rumo ao combate.

Com essa adversidade por terra, os aliados planejam um ataque aéreo à capital. No final da tarde de hoje, 26.03.2003, quando o pôr-do-sol do Guaíba será para olhos dos porto-alegrenses a oitava maravilha, quando o Cristo Redentor será iluminado no Rio de Janeiro, quando o locutor da voz do Brasil disser: “- Em Brasília 19:00h”, os aliados despejarão 1600 bombas sobre Bagdá.

São 1600 bombas sobre Bagdá!?

Isso não é guerra... É genocídio, extermínio, é a barbárie que sai da ficção para tornar-se realidade. Bagdá poderá ser riscada do mapa. E os civis? E as crianças? E os inocentes? Definitivamente, os Tyrannosaurus rex eram mais cordiais!

Nesse jardim florido de enxofre, quantas serão as rosas de Bagdá?









Crônicas da guerra



O dia em que a Terra parou Enquanto a humanidade sai às ruas exigindo a paz, basta que os soldados fiquem em casa e não saiam para a guerra. Sem soldados há guerra? – Volta e meia a minha adormecida veia utópica desperta. – No máximo um duelo entre Bush e Hussein. Que, aliás, seria uma guerra com apenas uma baixa.



Ontem eu quase chorei pela paz - Pai, nós vamos fazer um volta na rua pedindo a paz no mundo. - Respondeu-me.

Fiquei comovido. Pouco mais de uma dezena de crianças, com idades variando entre 7 a 11 anos, estavam incluídas nesse contexto mundial.



As luzes de Bagdá A madrugada cai vagarosamente com as horas enquanto olhos iraquianos, atentos e incrédulos, vêem luzes cruzando a noite da cidade. Bonitos e fosforescentes fachos de luzes cortando, como uma navalha incandescente, o céu de Bagdá.



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