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Artigos-->Luzes no Espelho - A Solidão -- 02/04/2003 - 22:32 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LUZES NO ESPELHO – A SOLIDÃO



Francisco Miguel de Moura *



Memória e poesia, poesia e memória, seja lá o que for, tenho em mãos um livro, “Luzes no Espelho”, de Adélia Maria Woellner, que é uma leitura profunda da alma, a partir da carne, dos traços do mundo, do sentimento da vida. Não é jamais aquele encontro que se supõe de dentro para fora, que nasce na alma, cresce na alma e por ali fica (ou morre).

E uma aventura de sofrimento descreve seus piores momentos, tem predileção pelos piores fatos do quotidiano, mas, em alguns instantes desfiam pequenas ternuras, como nuvem que se esgarça, quase nada, as quais, juntamente com os sonhos vão alimentando o fio da vida de cada dia.

O espelho é ingrato, mostra os sulcos do medo rasgando com dores agudas no campo da carne, sem sangrar. Desce a solidão, em momentos de extremo reconhecimento de fraqueza e falta de forças para prosseguir, como se fosse um peso instalado desde a infância, talvez antes do nascimento, para nunca mais deixá-la.

Solidão e medo, a dupla arrasadora.

Diria que esses dois sentimentos comandam a vida da escritora.

Daí vem a insegurança. A desconfiança. O ciúme a despertar no outro. Como entrar no baile, escolher o par e seguir a música, qual os demais casais, no salão?

“Se um dia você olhar para outro homem...” lembra de quando vivia casada.

A própria autora conclui:

“A cada ferida, um esparadrapo impermeável para impedi-la de sangrar. Sonhos e esperanças se acumulam no baú de velhas recordações.”

O tempo não passa, as luzes se acendem e se apagam:

“Sem perceber a admiração (pelos volteios, pelos casais, pela música), murcha, se aniquila e dá lugar a uma imensa, profunda sensação de solidão.”(pg. 70).

Sentimento que também me cobriu há algum tempo em minha vida. Aqui nos irmanamos. É durante a música e a dança, casais girando, a alegria e a efusão – será que verdadeiras? – que me sinto como um ser sem valia, igual a uma palha seca que o vento leva sem destino. Para que serve aquilo? De que nos vale dançar e dançar, os corpos se roçando, suando, as bocas a falarem segredos que nunca serão confessados... E desfazerem-se, depois, os casais, para talvez nunca mais se encontrarem? Que digam as frases mais bobas... Por que não se dizem sentires que tenham duração mais que o minuto da valsa ou do bolero, ou que ali surgem verdadeiramente e ficam para sempre gravados no coração do par?

O mundo é volúvel, mais volúvel é a música e sua respectiva dança.

O livro é profundo e se divide em partes pensadas e sentidas e em outras descritas, verdadeiras, que contam episódios da vida da autora, de uma maneira leve como escrita, mas psicologicamente pesada, dura, profunda, de fazer sentir, sofrer e amar.

Ninguém lerá Adélia Maria Woellner impunemente. Escolho um pequeno texto pensado, sonhado... Poderia ser outro qualquer:

“Fecho os olhos. Aos poucos, meu corpo se solta e a mente divaga, até que é atraída e se fixa numa única imagem.

Estou sentada no canto de uma sala qualquer, que não reconheço. Sou pequena, muito pequena, porque as paredes me parecem exageradamente altas. Sinto medo.

Lentamente meu corpo cresce, cresce... As costas roçam as paredes e a cabeça vai pendendo. O queixo desce até o peito e a nuca, os ombros encostam-se ao teto. É grande a pressão... não há mais espaço. Estou confinada neste canto de paredes. Sinto-me presa, sufocada, embora saiba que a sala toda está vazia, à espera do meu movimento.

A sensação de isolamento atinge o corpo que retorna, vagarosamente, ao estado inicial.

Olho uma vez mais a sala vazia e sei, então, que preciso levantar-me e abrir a porta...” (pg. 39).

Parece um transe espiritual, senão espírita. Nunca tive a última experiência seriamente, mas deve ser assim essa prisão e a conseqüente libertação que se processa.

Quanto aos poemas, conquanto bons ou mais ou menos sensíveis, acho-os dispensáveis no contexto do livro, cuja prosa por si só se basta e é envolvente, forte, digna de uma verdadeira escritora, de uma verdadeira mulher. Que soube vencer o peso da solidão e encarar as luzes do espelho com grande amor à vida e responsabilidade para com o mundo. E deixa seu depoimento neste pequeno grande livro, repleto de emoções.



____________________________

*Francisco Miguel de Moura é escritor, membro da Academia Piauiense de Letras e do Conselho Estadual de Cultura, mora em Teresina-PI.

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