É assim, como disse Beto Muniz, em sua crônica bem sucedida, o carona é o primeiro a dormir, babar, balançar a cabeça em concordância ao capim da estrada, e encostar o queixo no peito, e por que não dizer, a pescar ou cumprimentar o padre. Ao longo de muitos anos de estrada, e muitas viagens de carro, todos meus passageiros dormiam ao passo de alguns minutos dentro do veículo, com exceção de um único passageiro, que é meu grande amigo Cobrinha, mencionado em meu chamado A arte da microfonia. Porém esta crônica, e bem pode ser considerada um artigo, mas não sei se publicarei nos dois gêneros, não pretendo falar sobre os que mantêm-se acordados como o Cobrinha, mas nos que dormem profundamente durante qualquer viagem. Pois, concordo em número, grau e gênero com o Muniz, só não sei se este artigo será uma crônica ou vice e versa.
Este artigo, ou crônica, vêm falar daqueles que dormem ao lado do volante, ou calam-se profundamente durante a estrada. Eu mesmo já dividi o volante com alguns amigos, e enquanto eles dormiam ou calavam-se, eu mostrava-me prestativo a entregar-lhes a garrafa de água, apertar-lhes os baseados, mas sem acender agora, por que logo a frente tem um batalhão policial. Pois, sabe-se bem que os baseados são a única forma de controle de velocidade nas estradas, mais eficientes que os radares policiais, as barreiras, os batalhões, e as possíveis blitzes. Por isso, nunca pude dormir no banco do passageiro, enquanto muitos outros, e principalmente as mulheres, dormiam em sono profundo durante todo trajeto, e ao acordarem, além de mostrarem-se dispostos a dirigir, atestavam o fato de terem dormido um poquinho só. Um pouquinho só? Vocês dormiram durante cinqüenta e dois quilômetros! Nada mais, nada menos. Três agora, por que ainda estão sonhando que vou deixa-los dirigirem.
Durante uma longa viagem, descobri a simpatia definitiva para que os passageiros não voltassem a dormir durante todo trajeto. Sempre que mencionavam a intenção de dormirem, e perguntavam-me se podia e se eu não me incomodava. “Você está bem pra dirigir?”, perguntavam-me como se fosse imprescindível para uma boa noite de sono, e eu respondia que sim, pois, bem que tentei dizer que não, para que ninguém dormisse. Era um pretexto para que quizessem tirar-me detrás do volante. Mas quem é que vai dirigir? Vocês, que há pouco queiram encostar e dormir? Devem estar sonhando! Pois, era nesse estado, que chegavam todos mais cedo ou mais tarde.
Eu esperava pacientemente que adormecessem em sono profundo. E como bem descreveu Beto Muniz, que babassem pelo canto da boca, para então dirigir-me ao acostamento, como se de fato eu também estivesse adormecido. “Que isso?”, acordavam sempre sobressaltados. É que eu dei uma dormidinha... Vocês também não? Com isso, eu tinha companhia durante o restante trajeto. Perdiam o sono, desatavam a falar, e a olharem para a estrada, vigiando-me como a uma criança, aterrorizados como o fato der terem quase morrido durante o cochilo. Tudo mentira, eu não dormi porra nenhuma, mas deixava-os pensando que sim. Eu dormi, mas o carro é meu, e ninguém mais vai dirigir. Aliás, eu gosto de dirigir, e posso ir daqui, até o Pará sem me cansar. Mas que eu dormi, dormi sim, e como dizia Galileu: que gira, gira.
[Momento inspirado após ler O carona de Beto Muniz] Valeu Beto, pelo ótimo texto e fonte de inspiração!