À luz da Carta Apostólica do Santo Padre, “Novo Millennio Inneunte”, quero refletir com você sobre a vitória da cruz. O tempo da Quaresma é uma graça, onde a Igreja nos leva para o “Rosto Doloroso” do Senhor até chegarmos a contemplar o Cristo Ressuscitado. Enquanto escrevo, sinto na minha alma uma mistura de angústia diante do “rosto doloroso” de Jesus, e fé no Cristo Ressuscitado, que nos concedeu a vitória pela graça da cruz. No decorrer da nossa vida vivemos experiências de passar pela dor da cruz até chegar à vitória.
Entre outros fatos da minha história, partilho o que vivi ainda recentemente. Aconteceu no dia 21 de novembro de 2002, eu estava há mais de cinco anos convivendo com uma pessoa muito especial para mim (hoje minha melhor amiga – por enquanto), quando recebi a notícia dela própria que o nosso relacionamento estava acabado assim sem mais sem menos. Foi uma hora de profunda agonia, onde senti-me sozinho e abandonado por Deus. Naquela hora, a minha humanidade, até mesmo sem o saber, clamava o grito de Jesus: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34). Será possível imaginar um tormento maior, uma escuridão mais densa? Este “porque” cheio de angústia, dirigido ao Pai, expressa toda realidade do sofrimento redentor. A tristeza mortal do justo que sofre tem como luz a esperança no socorro de Deus.
“O grito de Jesus na cruz não traduz o grito de um desesperado, mas a oração do Filho, que por amor oferece a Sua vida ao Pai pela salvação de todos. Enquanto se identifica com o nosso pecado, O abandonado pelo Pai, Ele O abandona-se nas mãos do Pai. Os seus olhos permanecem fixos no Pai”.
Ao mesmo tempo, nos vemos em nossas dores e sofrimentos, semelhança com este
“rosto doloroso”, que soube enfrentar a extrema agonia até o grito do abandono. Mas a nossa contemplação do rosto de Cristo não pode deter-se no rosto do crucificado. Ele é o Ressuscitado! Foi o que se deu comigo, alguns dias depois de acontecido: fui “encaminhado” por minha mãe para fazer parte do grupo de oração Auxílio dos Cristãos, onde se deu o meu encontro pessoal com Jesus Ressuscitado, o que mudou toda a minha vida.
Não paramos, assim, no Cristo morto, mas olhamos o Cristo Ressuscitado. Como Pedro, que chorou por tê-lo negado e retomou o seu caminho, confessando o seu amor a Jesus: “Tu sabes que te amo”. Como Paulo, que ficou fascinado por Jesus depois de o ter encontrado no caminho de Damasco: “Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro”. Contemplemos no rosto de Jesus a nossa vitória!