A guerra no Iraque - e não do Iraque, porque antes de mais nada ela é dos Estados Unidos - transcorria dentro da sua assustadora normalidade: bombas caindo na cabeça de inocentes, crianças mortas por balas perdidas, prédios e residências sendo completamente destruídas. Os iraquianos assistiam a esse teatro de horrores já há alguns dias, quando Aprígio chegou à capital Bagdá.
O episódio da morte de Sadam não foi totalmente esclarecido. Uns diziam que ele havia sido realmente morto no ataque à uma de suas residencias faraônicas; outros afirmavam que tinha sido gravemente ferido; e ainda havia aqueles que não acreditavam ser Sadam o homem bigodudo levado pela ambulância. No máximo era um de seus sósias.
Enquanto tudo isso acontecia, Aprígio e sua turma cuidavam em divulgar a recém-batizada filosofia aprigiana. Não entendi muito bem suas diretrizes, embora uma cópia do folheto em inglês me tenha sido enviada por e-mail. Ao que parece, a doutrina engendrada por Aprígio não tinha nenhuma grande novidade, aliás, como quase tudo aquilo que ele se propunha a fazer.
O lema era, em síntese, o velho paz e amor, o que, em tempos de guerra, soava como ironia. Mas ao invés de provocar indignação, Aprígio conseguiu a simpatia e a amizade dos dois lados. Segundo ele me disse ao telefone, muitos aderiram na hora à sua filosofia, entregando as armas e desertando do respectivo exército. Aprígio só não me disse se a deserção era tanto dos soldados da aliança anglo-americana como também da parte dos iraquianos, embora ele tenha deixado implícito que a adesão à filosofia aprigiana só tenha partido das tropas até então leais à Sadam.
Fiquei feliz pelo "sucesso" do meu amigo naquela terra hostil. Não importava, naquele momento, se os soldados desistiam de lutar pela superioridade do exército americano ou pelos ideais apregoados por Aprígio. O fato é que aquela hedionda guerra estava chegando ao fim, graças (e por que não?) à modesta contribuição do meu - agora mais do que nunca - amigo Aprígio.
!!Próximo Capítulo: "Aprígio assiste à queda da estátua de Sadam"