Eram quase duas horas da tarde quando Zé da Banguela me ligou já do aeroporto do Rio de Janeiro. Tinha chegado são e salvo do Iraque, morto de saudade do sol brasileiro e, principalmente, do clima de paz que, segundo ele, reina pelas bandas de cá.
Às cinco horas daquela mesma tarde o telefone toca novamente. Não reconheci a voz. Também pudera. Era de um hospital de emergência do Rio perguntando se eu era parente de José Geraldo. José Geraldo? Ah, claro. Zé da Banguela. Disse-lhe que não chegava a ser parente dele, mas era como se fosse, sobretudo depois dos últimos acontecimentos.
A mesma voz feminina grave informou-me que ele havia levado cinco, isso mesmo, cinco tiros próximo ao centro da cidade maravilhosa, dos quais dois na região do tórax. Não soube informar quem disparou os projéteis. Apenas afirmou que a situação era crítica e que o “Seu José” estava em fase de pré-coma.
Perplexo, desliguei o telefone e imediatamente liguei para um velho conhecido meu que morava no Rio há quase vinte anos. Ambrósio formou-se em advocacia, mas era comerciante do centro. Ele me disse que os tiros foram disparados próximos de sua loja e, ao que parece, por traficantes que tentaram roubar um banco. Prestou-me solidariedade, dizendo que à noite iria até o hospital saber notícias de Zé.
Voltei do trabalho mais cedo, abatido. Fiquei pensando em Zé da Banguela o dia todo. Sua história de vida, seu romance com D. Juçara, o provável filho que conhecia (mas não sabia que era seu), o envolvimento dele com as drogas. Depois de tantos reveses, e, o pior, depois de ter sobrevivido às dezenas de toneladas de bombas que caíram do céu de Bagdá, Zé da Banguela acabou sendo vítima de outra violência, um pouco mais silenciosa e, por isso mesmo, mais perversa do que aquela por ele testemunhada no distante Iraque.
Eu que raramente rezava, pedi a Deus, a caminho de casa, pela saúde daquele homem generoso, que era mais um brasileiro a cair na impiedosa teia do crime organizado, propulsor de uma outra guerra: a guerra civil brasileira.
!!Próximo Capítulo: “Aprígio volta às pressas do Iraque”