"A SAGA DE APRÍGIO" - Autor: Tobby Teófilo T. T. Tyler
Jamais dê ouvidos a Aprígio. Embora não fale muito, costumeiramente provoca mal-estar com seu silêncio ensudercedor. Desengonçado ao andar, ao falar e, principalmente, ao tentar expor suas idéias malucas que, quase sempre, o ridiculariza. Desengonçado e sem graça (desgraçado?), pelo menos desde que o conheci quando ainda éramos moleques. Desde essa época, sempre tentei desvendar a personalidade de Aprígio. E ao tentar fazê-lo deparei-me com mais perguntas do que respostas.
Prestes a completar a idade de Cristo, Aprígio tem dado diariamente provas de sua insanidade sociável. São, como já disse, idéias infactíveis, pensamentos torpes, atitudes impulsivas e desastrosas. Vive em um mundo imaginário, só dele, no qual deposita todas as suas angústias e esperanças.
Veja, não estou aqui para criticá-lo, embora até agora não tenha feito outra coisa. Não quero passar a sensação de que seja algo pessoal, do tipo: “Aprígio colocou chifres na cabeça desse cara”; ou: “Aprígio jamais deu bola para esse viado metido a escritor”.
Neste aspecto em particular, hei de colocar os pingos nos "is". Aprígio jamais demonstrou possuir sexualidade, ao menos em público. Jamais aparentou encantamento com quem quer que fosse (exceção feita à sua mãe, Dona Juçara; à sua cadela Nestor; e à estrela de novelas Ana Paula Arósio). Portanto, qualquer insinuação sobre a homo ou a heterossexualidade de Aprígio será mera especulação.
A vontade de falar sobre Aprígio - até agora não falei muito bem, é verdade - dá-se exatamente em razão da tentativa de revelar a personalidade ignóbil desse verdadeiro anti-herói brasileiro. Longe de mim querer apresentá-lo como um neo-Macunaíma, muito embora adoraria fazê-lo acaso me fosse concedido a milésima parte do talento do velho Mário de Andrade.
O que quero, em suma, é, a partir de hoje, levar você a conhecer o mundo sem glamour, embora repleto de surpresas, desencontros - e alguns encontros, desse bom brasileiro que nada tem a oferecer, exceto o seu ostracismo repugnante, sua visão pueril da vida, capaz, no entanto, de desencadear risos, choros e aplausos de todo aquele que se depara com esse jeito “aprigiano” de ser.