Centro Adelmo
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
O Centro de Estudos e Debates do Socialismo e da Cultura – CEDESC – de memoráveis encontros, ficava na descida da rua Professor Braga. A memória é falha nesse momento. Não recordo se era uma sexta-feira ou um sábado, mas era uma noite chuvosa com um quê de mistério e desobediência.
A plenária não estava completa para assistir a palestra do “Adelminho”, no entanto, formávamos uma platéia ansiosa e atenta. Também não estou lembrado se era o lançamento de um dos seus livros, mas tenho certeza, o tema era marxismo, coração, mente e revolução, assuntos palpitantes no meio universitário.
Naqueles, quase longínquos, anos rebeldes, tínhamos um general que presidia o Brasil e uma moribunda ditadura. Nós éramos jovens e queríamos fazer a revolução socialista. Queríamos, simplesmente, mudar o mundo. Estudávamos todos os passos e tínhamos a revolução com data e hora marcadas. Vale registrar para que fique bem claro: Éramos jovens.
Adelmo Genro Filho nos deixou quando tinha apenas 36 anos. Partiu cedo. Há 15 anos no quente e triste fevereiro de 88. Era um estudioso. Um pensador. Tinha um futuro brilhante como político, jornalista e intelectual. Era um ensaísta e fazia inúmeras palestras. Na semana passada, fizemos uma visita de cortesia aos seus pais. Seu Adelmo guarda, com muito carinho e saudade, alguns manuscritos do filho e Dona Elly ainda se emociona ao manusear aquelas folhas amareladas pelos anos porque vê o filho tão presente.
Não fui amigo do Adelminho. Não fazia parte do seu círculo de amizade. Naqueles tempos eu era apenas um recém-formado interessado em conhecer e estudar o socialismo e as idéias revolucionárias. – que naquela conjuntura política fazia-se necessária. Queríamos libertar os povos com a revolução. - Utopia? - Utopia.
É possível que a democracia que vivenciamos hoje seja a conseqüência das utopias sonhadas pelos jovens rebeldes dos anos de chumbo. Às vezes penso que falta um pouco de utopia no horizonte da nossa política. Mas isso é outro assunto.
Hoje, passados todos esses anos, o mundo mudou várias vezes e nós mudamos outras tantas. Entretanto, puxando pela memória, ainda podemos vê-lo com sua calvície prematura, gesticulando e construindo a argumentação sobre os ensaios filosóficos e marxistas, enquanto a chuva caía no telhado de zinco daquela “garagem socialista”. O aguaceiro fazia um descompasso com a eloqüência do orador e, nós, acomodados nas “confortáveis” cadeiras de palha, atentos à explanação do palestrante.
Talvez seja essa a única lembrança que tenho do Adelminho.
E para coroar um sentimento humanista, no dia 29 de março fundamos, em Santa Maria, uma ONG que atuará em ações pelos Direitos Humanos. Foi uma escolha unânime. Enfim, acabamos reencontrando-o no “CENTRO DE ATENÇÃO À CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS ADELMO GENRO FILHO” ou simplesmente Centro Adelmo.
Todos os presentes na assembléia de fundação foram taxativos nessa justa homenagem e com a certeza que Adelmo Genro Filho, seria hoje um militante humanista. Tinha a sensibilidade e a clareza necessárias para acumular esses conhecimentos. Homenageamos o Adelminho porque continuamos humanistas. Homenageamos o Adelminho porque ainda é permitido sonhar.
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