A incisiva e exígua frase, constituída tão só por cinco palavrinhas e três pontinhos, não é de uso adequado em reuniões de cidadãos benquistos. O conjunto de indivíduos, que é sem dúvida um montão de merda bem vestida, quiçá perfumadíssima, há milénios que debate a instante solução da humanidade: harmonizar em paz o quadrado vital da existência, a fome, a sede, o sexo - que é uma merda - e o sono, o tal que faz esquecer todas as constantes merdas da porca da vida.
Para quê desfiar aqui a lista de exemplos que em avantesmo rosário cada vez mais e mais se enfia em biliões de avé-Márias, padre-nossos e glórias-ao-pai, o tal que é deveras uma merda incontornável.
A incisiva e exígua frase, como escrevi, surgiu-me nítida no e-mail, vinda de longe e afinal ali tão perto. A ideia desviou-se-me imediata para outro lugar, uma meia-dúzia de anos atrás, quando eu então recitava...
O amor... Que sentimento...
Tão belo... E tão fatal...
Acaba na lei do tempo
Por nos fazer sempre mal!
A meu lado, sentado numa das mesas que comungava no sarau nocturno, boçal e bêbado, um conviva de cornos invisíveis, largou arrastado entre dentes:
"O amor... O amor... O amor é cagar..."
Voltemos ao e-mail e ao prosseguimento da ideia onde culminarei o desfecho: O sexo é ou não uma merda?!
Um anãozinho que me segreda ao íntimo está agora a dizer-me: "Pá... Cuidado... O sexo é uma boa merda e indispensável!...".
Eureka... De facto... Merda há aos montes em profusa catadupa. O que é preciso é saber mexer nela, sabiamente, delicadamente, com dedos impecavelmente lavados e tratados... É... Pois é?!
E lá vem o e-mail da merda e do sexo à baila, não sei se tarde ou bem ainda a tempo de baixar o caudal ao grande rio de merda que inunda a Usina.
Quem é que gosta da letra... Quem é?! Sou eu... Não?!...
Em face disto, confesso que não desgosto da merda que faço, mas também afirmo que me mete nojo quanto baste.
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