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Artigos-->DESEJO DE MORAR SOZINHO PODE COMPETIR COM A VONTADE DE AMAR -- 01/05/2003 - 19:08 (JAQUELINE ALENCASTRO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
por Paulo Sternick*



Um número cada vez maior de companheiros continua em casas separadas, não "junta os trapos". As causas são complexas. Vão do individualismo atual até as velhas dificuldades pessoais de se relacionar com o outro. A verdade é que eles já encontraram mais liberdade para escolher de que maneira vão se amar. Só precisam de sorte para ter propósitos comuns.



Se você tem dúvida sobre qual estado civil deseja ter nos próximos anos, pegue uma folha de papel e escreva, de um lado, "casar", e do outro, "não casar". Vamos combinar que casar seja morar junto. Relacione pros e contras de cada opção. Então, decida-se se "junta os trapos" ou continua morando sozinho. Hoje, temos também a alternativa de mantermos uma relação em casas separadas. Bem, esse dilema já inquietava, em 1838 Charles Darwin, o cientista britânico que criou as bases da moderna Teoria da Evolução. Aos 29 anos, enamorado de Emma, mas cheio de dúvidas, listou seus pros e contras, e escreveu a favor do casamento, entre outros itens: "Pense numa bela e delicada esposa num sofá, uma boa lareira, livros, música." E contra: "Liberdade de ir para onde quiser, escolher a vida social, poder ler de noite."

Darwin resolveu casar-se. Mas em nosso país, a julgar pelas estatísticas da Fundação IBGE, sua opção perde posição a cada ano.

A taxa geral de casamentos legais caiu na última década, passando de 8 por grupo de 1000 habitantes em 1990 para 5,7 por 1000 em 2001. Uma das explicações é que as pessoas preferem viver consensualmente antes de concretizar o registro legal. A outra é que cada vez mais indivíduos preferem morar sozinhos (muitos mantendo relações fixas, mas cada um com sua casa), seguindo a tendência verificada no Primeiro Mundo. Em Paris, metade dos domicílios é habitada só por uma pessoa, cifra que em Londres atinge um terço das casas. O problema surge quando existe uma disparidade de intenções: um dos parceiros deseja casar e o outro não, apesar de assegurar que ama. Uma dúvida que surge nesses casos é se quem não deseja "juntar os trapos" ama o suficiente ou se a restrição se deve apenas a medos ou dificuldades.

Seria tentador afirmar que o casamento é uma instituição datada historicamente, que estaria acabando. Isso não é verdade.

A questão é bem mais complexa. O fato é que, por pressão cultural, o amor tolerante e paciente que permite que as pessoas morem juntas não ocorre mais com a facilidade de outros tempos. E o vínculo estável e intimo perde a cada dia seu lugar em nosso pouco admirável mundo novo. Em troca, temos a nossa frente muitas oportunidades e mais liberdade de escolher o que julgamos ser nossa melhor maneira de viver. Livramo-nos da coerção que nos "obrigava" a ser casados e constituir um lar. Ganhamos o respeito pela diversidade. Ficou combinado que estado civil é assunto de arbítrio pessoal.

Mas outras tiranias, bem mais invisíveis, continuam limitando a nossa suposta liberdade. Uma delas se origina dentro de nós. E a coerção do medo, das limitações emocionais , que dificulta o desfrute da simplicidade dos amores, da verdade de viver junto e de construir família. Isso faz o individuo ficar mais carente e mais sujeito aos chamados alternativos, aos estímulos da mídia, às tentações alienantes da cultura, que acenam com um fantasioso mundo de prazeres ilimitados, quando o egoísmo e o narcisismo substituem o cuidado e o amor pelo outro. Em vez de sentir desejo e ternura pelo parceiro, há uma procura turbinada de casos descartáveis, ou de pessoas idealizadas, cujo resultado mais comum é a descoberta de que o príncipe ou a princesa na verdade eram travestis sofisticados do sapo.

Casar ou não casar??

Não existe regra única para todos. Alguns temperamentos sai mais propícios a construção de uma vida em comum, outros são mais inquietos e impacientes para os dilemas inevitáveis de uma prolongada relação a dois. A experiência mostra, porém, que vivemos melhor quando, de alguma forma, mantemos um romance. Toda forma de amor vale a pena e não precisa ter domicilio.

A flexibilidade e adversidade do mundo de hoje imprimem às relações as mais variadas formatações, para além dos padrões tradicionais. Mas os parceiros precisam de sorte para sintonizar com a maneira de viver do outro sem abdicar das próprias necessidades.





* Paulo Sternick (54) é psicanalista no Rio de Janeiro e em Teresópolis (RJ), membro da Sociedade Internacional da Historia da Psiquiatria e da Psicanálise, com sede em Paris (Franca), e editor da revista Gradiva.

E-mail: paulosternick@montreal.com.br










PS: Artigo publicado na revista Caras, em 25 de Abril de 2003.





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