O suceder dos fatos em cada semana mostram claramente como há toda uma manobra política por detrás de tantos pronunciamentos e medidas adotadas. Com notável espalhafato a suspensão do racionamento de energia foi feito e o governo soube explorar, demagogicamente, um evento que foi fruto, exatamente, de uma indesculpável incúria, como os meios de comunicação social abertamente tinham denunciado.
Pessoas esclarecidas lançaram agora uma “cruzada nacional contra os juros altos”. Diz o texto: “É que vivemos em um País de extremas contradições: se um cidadão empresta seu dinheiro a juros de 2, 3 ou 5% é logo considerado, sem piedade ou dúvida, agiota . Entretanto, sob o apanágio da legalidade, Bancos e outras Instituições Financeiras vivem a ganhar rios de dinheiro com empréstimos a juros bem mais elevados - escorchantes mesmo - convivendo com lucros exorbitantes”. Depois de mostrar o lucro fabuloso dos Bancos e Instituições Financeiras acrescenta algo impressionante a referida nota: “Vale lembrar o fato do cidadão que depositou R$ 100,00 na Caderneta de Poupança no dia do lançamento do real e hoje tem como resultado R$ 374,00. Por outro lado, se esse mesmo cidadão tivesse sacado os mesmos R$ 100,00 de seu Cheque Especial teria hoje uma dívida de R$ 139 259,00”. Portanto, “não se necessita de mais argumentos para concluir-se que não podemos deixar de iniciar um protesto forte e incansável contra essa situação para lá de impiedosa, iníqua e mesmo esdrúxula”.
O que muitos patrícios não sabem é que “nossas autoridades não podem continuar buscando justificativas esfarrapadas para esse quadro caótico, pois o País gasta anualmente R$ 300 milhões com juros da dívida, metade do orçamento federal”. Pois bem, dia 21 os jornais anunciaram que a taxa de juros havia caído um pouco. O governo havia reduzido a taxa básica de juros da economia de 19% para 18,75 %, taxa ainda altíssima. A triste realidade, entretanto, é que, como explicava uma das manchetes de um grande jornal: “Redução não vai ter impacto imediato no bolso do consumidor”.
O que vai mesmo afetar o contribuinte é o que também foi noticiado no mesmo dia: “CPMF estará em vigor até 2004”. Governo que não sabe administrar apela mesmo para os impostos. Razão têm notáveis professores universitários, os quais, com pertinência e sabedoria, vêm mostrando os equívocos do atual governo. A verdade é que o povo precisa ficar atento à sutileza dos mecanismos de concentração de riqueza e aumento da pobreza. Deste desnível só pode resultar mais dominação. Cumpre a percepção crítica e real das distâncias entre ricos e miseráveis as quais crescem em virtude das tramas que envolvem os bastidores do poder.
A aceleração dos controles sociais não permite, tantas vezes, captar os estratagemas empregados. Não é fácil a percepção clara da realidade em que se vive. Há uma amputação estudada dos elementos que permitam uma reflexão exata do que ocorre e até fracassos servem para impor a idéia de triunfos! Estabelece-se mesmo um dilema irreal: ou fica como está ou o país imergirá no caos, isto é, nenhum partido da base do governo deveria ter candidato próprio, pois o Príncipe já ungiu o seu eleito e a oposição está de antemão liquidada! É um reducionismo alarmante. É uma visão típica dos deturpadores da história que dividem tudo entre o bem e o mal, julgando-se eles os defensores da luz, pois o resto está nas trevas da ignorância das batatadas! Daí o bloqueio das razões dos que querem mudar para melhorar. O que se almeja, na pior das hipóteses, caso as forças renovadoras logrem o triunfo nas urnas, é que se deixe aplainado o caminho para o surrado slogan: “Ele voltará, pois deixou o governo nos braços do povo”. Pobre povo, sempre massa de manobra”!