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Artigos-->U-zine (28) -- 20/05/2003 - 12:47 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Cada um tem seu método, como cada um tem sua loucura; apenas, estimamos sensato aquele cuja loucura coincide com a da maioria."



[Miguel de Unamuno, citado em Editorial da Folha desta terça-feira, 20/05/2003]



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Obs.: Aliás, Miguel de Unamuno é páreo para Ortega y Gasset no ranking das citações, não é não?

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O escritor Uilcon Pereira fazia uma distinção curiosa entre o "louco cultural", no sentido em que se diz que alguém é "muito louco", e o "louco louquinho". Mas também gostava de usar a classificação "fronteiriço", para se referir a casos que não se encaixavam muito bem em nenhuma das duas classificações.



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Tentando saber o que acontecia no Salão de Atos lotado, alguém, que não conseguia entrar e nem atrevessar com o olhar o mar de cabeças que impediam a entrada, teria perguntado o que ali estava acontecendo. Eu estava conduzindo, na Faculdade de Ciências e Letras de Assis (UNESP), a aula-espetáculo "Sai pra lá, Maria Kafka!". A resposta teria sido: "Um professor muito louco, que veio de Araraquara". Por dúvida das vias, achei saudável sentir-me lisonjeado. Ademais, a expressão "muito louco" me fez voltar mais de trinta anos no tempo, aos meus tempos de estudante ali mesmo em Assis, quando certamente Uilcon Pereira intuiu a distinção curiosa acima citada, entre o "louco cultural" e o "louco louquinho". Mas, nas atuais circunstâncias, se me declarassem "fronteiriço" eu já me daria por mais do que satisfeito.



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No meu percurso profissional como professor universitário e também no meu percurso como tradutor, que não poderia em hipótese alguma chamar de profissional, não foram poucas as vezes em que as pessoas me apontaram o caminho da terapia.



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Ocorrem-me os versos de Dorival Caymmi, que a todos nos redime (rimou): "Só louco, amou como eu amei / Só louco, quis o bem que eu te quis / Ah, insensato coração / Por que me fizeste sofrer [...]"



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No meu concurso para efetivação, nos dias 15 e 16/03/2003, para a prova pedagógica, dos doze temas que apresentei, foi sorteado um mais do que apropriado. No caso, o candidato é obrigado a dar uma aula para ninguém. Nínguém, bem-entendido, além dos três membros de uma banca, que o próprio candidato se encarrega de reunir, os quais, por sua vez, são forçados a se comportar como elementos neutros. Na USP, passei por algo ainda mais indescritível. Tive de dar uma aula de língua alemã para 25 professores, terminantemente proibidos de se comportar como se fossem os meus alunos. Desta vez, até que tive sorte. Além dos três membros da banca, tive a presença de um colega de departamento e de três alunos do Curso de Letras (vale a ressalva: não são meus alunos). O tema sorteado: "Kafka, o Filho Eterno, a vanguarda sem o foguetório". Não poderia deixar de ter dito que, depois das "cenas dantescas" e das "tiradas shakespearianas", no século XX aprendemos a conviver com o "absurdo kafkiano".



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Para um concurso como esse, o candidato apresenta um "memorial", no qual deve relatar os passos principais do seu percurso intelectual e acadêmico. Poucos saberiam definir com exatidão o que isso vem a ser. Na prática, o candidato acaba se estatelando num divã imaginário. A argüição sempre terá grandes chances de resvalar para a terapia. A sessão, para o psicodrama.



Falar de si mesmo não é algo que se faça de maneira isenta. Tomar posições firmes, revelar as próprias convicções, invariavelmente, pode resultar ofensivo a leitores e ouvintes. O argüidor quase não escapa a esta perigosa armadilha, de se ver espelhado, quase sempre num espelho deformado. Mesmo porque, por menos que se queira, por mais que as hierarquias profissionais insistam em negá-lo, essas ocasiões acadêmicas acontecem entre pares. E ninguém está disposto a abrir mão do legítimo direito de ser "ímpar".



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Quando um argüidor classificou a minha memória como "espantosa", acrescentei que o meu memorial poderia ter ostentado, a título de epígrafe, a frase impagável da Bibi Ferreira: "Eu não me lembro de nada que eu já tenha me esquecido."



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Uma proeza: consegui passar a impressão de que sou extremamente organizado. A banca nunca saberá o que me custou, entre a tradução de "O ajudante" de Robert Walser (dois anos de trabalho) e a confecção do memorial e das pastas com os comprovantes, ter de vasculhar por entre todos os não-guardados, todo esse papelório que fui juntando a esmo ao longo da carreira. Além da crise espiritual que uma empreitada dessas normalmente acarreta, o convívio com os ácaros me deixou prostrado e me presenteou com mais uma temporada à base de corticóides. Meu médico já está me acenando com uma hipótese que hesito em aceitar, comprar uma máscara de carvão. Aí, sim, os meus pares me dariam por definitivamente liquidado para o livre exercício das minhas capacidades intelectuais, eu que já me vejo tão prejudicado no uso das minhas vias respiratórias.



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Convido o leitor a revisitar comigo, mais uma vez, duas citações de Hermann Melville, que já usei como epígrafes num dos meus incontáveis relatórios de atividades na universidade:





"Para a realização de certos empreendimentos humanos, uma desordem bem meditada constitui o verdadeiro método."



(Herman Melville: Moby Dick. Trad. por Berenice Xavier. SP: Biblioteca Folha, Ediouro, pág. 417)



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"There are certain queer times and occasions in this strange mixed affair we call life, when a man takes this whole universe for a vast practical joke, though the wit thereof he but dimly discerns, and more than suspects that the joke is at nobody s expense but his own."



(Herman Melville: Moby Dick. Chapter 25. Collins Clear-Type Press: London and Glasgow, Fontana Books, 1955. Page 130.)



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De volta ao começo:



"Cada um tem seu método, como cada um tem sua loucura; apenas, estimamos sensato aquele cuja loucura coincide com a da maioria."



[Miguel de Unamuno, citado em Editorial da Folha desta terça-feira, 20/05/2003]



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Um autor: ROBISON STEMBERG.

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Um texto: "A Usina de Letras e a mão do Estado (?)", de MARIA GEORGINA ALBUQUERQUE.

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Ausências notáveis: JÔNATAS PROTES e RODRIGO CONTRERAS, entre outros.

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Presença marcante: FELIPE CERQUIZE.

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Filmes:



"Doze Homens e Uma Sentença", de Sidney Lumet, com Henry Fonda;

"Je vous salue, Marie", de Jean Luc Godard;

"Fargo", dos irmãos Coen;

"O homem que não estava lá", idem;

e

"Crepúsculo dos Deuses", de Billy Wilder.

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Livros:



"SEXO", de André Sant Anna (7 Letras);

"Angu de Sangue", de Marcelino Freire (Ateliê Editorial);

"Biografia de Uma Árvore", de Fabrício Carpinejar (escrituras);

"Boa Companhia", vários autores (Cia. das Letras);

e

"O século oculto e outros sonhos provocados", de Nelson de Oliveira (escrituras).



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