Correram boatos pela Web que Stanley Kubrick antes de morrer teria desenvolvido um projeto sobre Inteligência Artificial, baseado em sua experiência na criação do HAL-9000 durante as filmagens de - 2001, Uma Odisséia no espaço - onde fora auxiliado pelos cientistas do laboratório de Inteligência Artificial do Instituto Tecnológico de Massachusetts – MIT – nos Estados Unidos. O filme deveria chamar-se I.A., numa tradução literal para A.I., se não fosse repentinamente interrompido pela morte de seu realizador, logo após a conclusão de seu último filme – Eyes Wide Shut.
Parentes próximos de Kubrick, inconformados com a morte de um dos grandes gênios da cinematografia mundial, concluíram projetos ousados e emergenciais, como um documentário sobre o cineasta, incluindo cenas do arquivo familiar Kubrick, e a negociação sobre o projeto inconcluso de Kubrick – Inteligência Artificial. O documentário foi recentemente lançado, e obteve enorme aceitação, aumentando as possibilidades para o projeto inconcluso – A.I. – Iniciaram-se negociações com o estúdio DreamWorks, chefiado por Spielberg, que também era o principal nome para assumir a direção do projeto.
A.I. - Inteligência Artificial representa uma colaboração póstuma entre Stanley Kubrick e Steven Spielberg, que poderá dividir opiniões os fãs. Os defensores da obra imortal de Kubrick poderão sentir-se decepcionados, enquanto os fãs de Spielberg sentirão uma sensação de deja-vu, devido a filmes como E.T, o Extraterrestre, e Contatos Imediatos de Terceiro Grau – Para não mencionar Pinocchio e O Mágico de Oz, espalhados em referências durante a projeção do filme.
Vinte meses depois de iniciar sua pesquisa sobre Inteligência Artificial, onde pretendia reproduzir o sentimento do amor - através das máquinas robóticas produzidas em larga escala numa versão Cibertrônica de Admirável Mundo Novo – Professor Hobby, chefe e cientista na Manufatura Cibertrônica, criou o pequeno robô David, que foi programado para amar, após inúmeras questões éticas serem observadas pelos cientistas do projeto. Após sua criação, David foi adotado em ordem de teste, por um dos cientistas do projeto, e por sua relutante esposa, que penava pelo seu único filho doente terminal, congelado criogênicamente até que houvesse uma cura para sua doença.
O pequeno David ajusta-se perfeitamente à sua família adotiva, até que o filho legítimo do casal é finalmente descongelado. David é forçado a seguir sua vida pelo mundo. Nada mais original como Pinocchio e Mágico de Oz, que o pequeno David acreditar que ao transformar-se em menino de verdade, sua mãe o aceitaria de volta, e que não há lugar com a nossa casa. Onde faltava apenas a personificação da mentira através do crescimento do nariz, pois até mesmo as companhias do submundo do circo urbano, e até a viagem submarina na barriga de uma baleia globalmente aquecida.
Na visão de Spielberg, um mundo feio e cínico, que reflete a visão de Kubrick em filmes como Laranja Mecânica. Mas sua visão foi além do lançamento do filme nos Estados Unidos, previsto para 29 de Junho de 2001. Ele lançou seu filme antecipadamente na Internet, contando os passos iniciais do desenvolvimento da Inteligência Artificial. Criando todo um background, para os personagens do filme, numa sociedade temerosa e preconceituosa com os robôs inteligentes. Onde existiam Milícias Anti-Robôs, formadas por pessoas comuns, e cegas de preconceito por suas debilidades físicas e mentais, facilmente superadas pelos robôs superdotados.
Jeanine Salla, uma dos cientistas envolvidos no projeto de criação artificial, é personagem principal nesta trama internáutica. Agindo como cientista no projeto A.I., e articuladora contra uma conspiração contra Evan Chan, dono da fictícia Donu-Tech Consulting, responsável de projetos como Análise Térmica, que morreu assassinado por uma prostituta robótica, de uma agência especializada em sua manufatura - Belladerna. Nesta conspiração, estão envolvidos, tanto Kataka Nei, dona da empresa Belladerma, quanto Enrico Basta, que contratou os serviços da Belladerma, para programar Vênus, uma acompanhante de luxo de Evan Chan, para que o assassinasse. Evan Chan, morreu no dia 08/03/2142, aproximadamente às onze horas, com traumatismo craniano seguido por parada respiratória, de acordo ao laudo de sua autópsia: 42031487q-20660728ec-qz.
Spielberg protagonizou a maior e mais cara aventura de marketing pela Internet jamais vista, depois do lançamento de Blair Witch Project. Spielberg montou um quebra-cabeças multi-milionário na Internet, com milhares de pistas, escondidas em inúmeros sites, desde as empresas possuídas, por Evan Chan, Kataka Nei, até a Bangalore World University, onde Jeanine Salla, formou-se e graduou-se em Inteligência artificial. Ao que parece, Salla é a principal chave deste gigantesco jogo de gato e rato cibernético. Uma deliciosa farsa, orquestrada pelo mágico e ilusionista Steven Spielberg.
Relutante ao fato da escolha de Spielberg para a direção do filme, já que a personagem de sua brilhante farsa internáutica, mais de parece com a heroína Eleanor Arroway, protagonista de Contato, dirigido por Robert Zemeckis, adaptado do livro homônimo de Carl Sagan. Afirmo, que a escolha para a direção desta farsa tão bem elaborada, foi a melhor possível, pois, como maestro, Spielberg deu um banho em seus antecessores com sua Bruxa de Blair virtual. Mas que a escolha mais sensata para a direção do mesmo filme, seria Robert Zemeckis. Pois, só então, ficaríamos livres de uma versão água com açúcar, repleta de clichês, desde Pinocchio à Mágico de Oz, e teríamos uma versão mais condizente com a visão de Kubrick.
Pois, foi somente ao fim desta crônica, ou deste artigo, que percebi, fazer parte do time dos defensores da obra imortal de Stanley Kubrick, bem como de suas visões apocalípticas de um Admirável Mundo Novo. Pois, preferia uma referência aos Huxleys, Asimovs, e até mesmo aos Sagans, do que os pequenos bonecos de madeira com sentimentos humanos, e que além do arco-íris, o céu é azul, e os sonhos que sonhamos tornam-se verdade. Pois, tudo isso, já foi exibido com exaustão, enquanto acreditamos na vida inteligente, além do Hollywood... “Existe um lugar, bonito e tranqüilo, pra gente se amar...”.