"Repousa lá no céu eternamente..."

É matriz peculiar e pilar essencial da língua hodierna portuguesa e desde sempre considerado o mais sublime dos vates em expressão lusitana. Nenhum dos poetas do mundo o transcendeu em enlevo e amor pátrio.
Luís Vaz de Camões deixou à humanidade uma das mais ricas e prósperas obras literárias, "Os Lusíadas", fascinante e épico repositório de história e cultura que culmina a evidência de toda uma civilização, muito além do apreço de seu tempo, espantosamente avançado e fora do comum.
É através de indícios textuais que se encontram na sua poesia que se pode definir a modernidade de Camões ou estilo Camoniano, onde se verificam propositadas transgressões, tanto em relação aos modelos clássicos greco-latinos da época como em comparação à ordem religiosa e política do poder no tempo de Camões, como ainda também confrontando a imagem posteriormente construída do poema como símbolo épico da traça lusíada e dos seus feitos materiais. São todavia estas transgressões que o caracterizam como sendo um novo e genial homem da Renascença.
Camões nasceu em 1524, quiçá 1525, segundo documentos publicados por Faria e Sousa, em Lisboa ou em Coimbra, embora a data e o local do seu nascimento não mereçam certeza.
Segundo registo da lista de embarque para o Oriente no ano de 1550, regista-se que Luís de Camões se inscreveu e lhe foi atribuída a idade de 25 anos. O Padre Manuel Correia, que o conheceu pessoalmente, dá-o nascido em 1517.
Filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá Macedo, família nobre estabelecida em Portugal na época de D. Fernando, foi educado sob a imposição do Humanismo. Estudou em Coimbra de 1531 a 1541, onde D. Bento de Camões, seu tio, foi chanceler. Era esse mesmo seu tio sacerdote e sábio que o auxiliava nos estudos, mas ainda antes de Luís de Camões acabar o seu curso, partiu para Lisboa, talvez para conhecer melhor a principal cidade do seu país, visto gostar imenso da História de Portugal.
Reinava então D. João II e como Camões era fidalgo podia frequentar as festas e saraus da corte no palácio real. Foi nessas nobres lides que conheceu aquela que ele queria para ser sua esposa, D. Catarina de Ataíde.
Devido à rigorosa tradição da corte, Camões teve que se afastar daquela bela menina, a quem tratava pelo inventado nome de Natércia nos muitos poemas que lhe consagrou.
Ocorreu então seu exílio, por ordem do rei, para o Ribatejo onde permaneceu durante dois anos, até que se alistou como soldado e partiu para Ceuta. Foi nessa viagem que Camões avaliou o esforço formidável de um povo audacioso e persistente que foi capaz de vencer todos os difíceis obstáculos da travessia por onde passara primeiro que todos.
A descida do Oceano Atlântico, a passagem do Cabo da Boa Esperança e todas aquelas paragens, levaram Camões a glorificar na sua obra os lugares por onde a armada de Vasco da Gama tinha já passado, lugares esses que muito custaram a “descobrir”, o que constituiu razão para ainda e sempre dignificar o povo lusitano.
Apesar de ter sido um enorme poeta, foi também um grande patriota e um grande soldado. Defendeu Portugal tanto nas guerras em África como na Ásia.
Em 1547 partiu para Ceuta depois de ter estado na corte de 1542 a 1545. Em Ceuta perdeu uma vista quando lutava a favor de D. João III. Três anos mais tarde voltou a Portugal e teve vários duelos, num dos quais feriu Gonçalo Borges, moço de arreios de D. João III, o que lhe custou um ano de prisão no Tronco.
Foi nesse ano de prisão que Camões compôs o primeiro canto da sua obra “Os Lusíadas”. Obteve a liberdade com a promessa de embarcar para a Índia como simples homem de guerra, partindo então para Goa em 1553, onde conviveu com o vice-rei D. Francisco de Sousa Coutinho e com o Dr. Garcia de Orta, mantendo também relações amistosas com Diogo do Couto, o continuador das Décadas. Foi aí que escreveu o “Auto de Filodeno”, o qual representou para o governador Francisco Barreto.
Ainda na Índia compôs uma ode a D. Constantino de Bragança em que o defendia de acusações supostamente falsas que lhe eram feitas. Da Índia passou por Macau, onde os portugueses tinham fundado uma colónia mesmo em frente ao mar. Aí conheceu Jau António, companheiro que esteve sempre com ele até à morte e lhe fez companhia enquanto contava em seis cantos os feitos dos portugueses numa gruta em frente ao mar.
Foi chamado a Goa mas, no caminho para a Índia, o barco onde navegava naufragou junto à foz do rio Mekong. Daí se diz que ele tenha ido até à costa a nado só com um dos braços, visto com o outro segurar os seus preciosos escritos.
Regressou a Lisboa em 1569 e logo em 1572 publicou “Os Lusíadas”. Foi-lhe concedida por D. Sebastião uma tença anual de 15 mil reis que só recebeu durante três anos, pois faleceu no dia 10 de Junho de 1580 em Lisboa, na miséria, vivendo de esmolas, as quais se consta terem sido angariadas pelo seu fiel criado Jau. O seu enterro teve de ser feito a expensas de uma instituição de beneficência, a Companhia dos Cortesãos.
Após a sua morte, foi D. Gonçalo Coutinho que mandou esculpir na sua pedra o seguinte letreiro: “Aqui Jaz Luís de Camões Príncipe dos Poetas de seu Tempo. Viveu Pobre e Miseravelmente e Assim Morreu. - Esta campa lhe mandou pôr D. Gonçalo Coutinho, na qual se não enterrará pessoa alguma.”
A comemoração do dia da sua morte, é actualmente relembrado como o “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”, sendo feríado nacional.
Torre da Guia