Nos meus tempos de estagiário , Rio de Janeiro, morava em Santa Teresa e dividia a casa, e tudo que nela entrasse, com um amigo na mesma condição de iniciante na vida adulta.
Á noite, descíamos juntos até à Gafieira Elite, na Praça da República.
Sol claro, ele se fazia operário na construção do metrô, Estação Largo da Carioca.
Sua pele escura ajudava.
Então, eu passava por ele, minha pele clara realçando o jornalista do Globo, nosso começo.
Ele me olhava, segurando a marreta, no lugar da caneta, esta manobrava muito melhor.
Fingíamos um não conhecer o outro .
Em casa, no dividir as frutas da feira , ele chiava :
- Pô, polaco – era assim que me chamava .
- Que foi?
- Não precisava me esnobar parecendo de verdade.
Há um ano, o corpo deste meu querido amigo foi colocado dentro de um pneu. Foi detonado . Queimado.
Dos ossos , nem o pó .
Do sorriso , que encantava as amigas ( maior trabalho desviá-las, não à toa o conselho: - Polaco, antes de tudo, a gentileza... é disto que elas precisam.) pois é ... do sorriso desse meu querido amigo,
só lágrimas -
quiçá gritos -
de dentro de um madito pneu
onde foi queimado -
quem sabe -
vivo.
Em sua memória, amigo Tim Lopes,
vou dar linha à pipa
e que o vento continue a soprar a nosso favor.
Até faço uma greve nesta minha rude e polaca imagem.