Quando a cantoria for apenas uma palavra estranha, porém com definição misteriosa, onde curiosos do futuro tentarão desvendá-la, todos hão de sentir “na pele” o estertorar da última viola.
O cantador de viola, cientista da primeira poesia cantada, repórter rural, pesquisador dos seus próprios pensamentos, construiu sozinho uma “avenida” infinita, assim como pedra-por-pedra pôs verso-por-verso, estrofe-por-estrofe e depois asfaltou essa estrada longa com o singular e exclusivo improviso verbal, o qual foi desencadeando repentes que se tornaram “ruas” de espetáculos, “bairros” de conhecimento, até fundar uma grande cidade chamada cultura nordestina.
Como já podemos observar, o trabalho do cantador foi cansativo e hoje ele está exausto, não tem força nem recurso tecnológico para enfrentar a mídia, esse “avião de guerra” que insiste em bombardear essa cidade chamada cultura e persiste em implodir suas pioneiras construções, alegando estarem ultrapassadas, ou estar ocupando um território que não lhe pertence mais.
Seria indispensável lançarmos uma importante lembrança à mídia em geral, que nada jamais seria possível de se edificar sem alicerce, e o solo da cultura está entranhado de riqueza, de dons que nem todos são dignos de possuí-los, da avenida principal às vias vicinais, os maiores terrenos lhe pertencem, embora os invasores construam casas e monumentos, condenados pelos arquitetos da poesia. E para quem é leigo no assunto, saiba que isto é raiz e como toda raiz, basta sol e água para nutri-la, pois, vamos regar a partir de agora a verdadeira cultura dos nossos filhos, netos e bisnetos.
Tenho consciência que devemos ser abertos para o novo, afinal o tempo não retrocede, entretanto é dever de cada um, “respeitar o imutável, o perene dos séculos anteriores”, e até mesmo buscar nos recônditos o que ainda pode ser reciclado.
Em 01/11/2000
Sâmia Érika de Caldas Bandeira
Filha caçula do poeta cantador e escritor, Daudeth Bandeira.