Caríssimo Pafúncio, como vai a força? Eu continuo morto, mas por aqui tudo bem. Vou lembrando. Ontem ri bastante lembrando de você... eu lembrei de teu casamento com a Dalila.
Primeiro o choque de saber que você iria se casar. Nossa! Tanta coisa melhor pra fazer e você foi logo esquecer a camisinha. Pois é... Ela havia engravidado e nós vivíamos em uma sociedade antiquada: “trepou, emprenhou, casou” disso teu pai, que já se notava sinais de Esclerose. Afinal de contas não foi moleza, 2002 não é.
Cara! Faziam 16 anos que eu não botava o pé na igreja. Sabe o que isso significa? 192 pecados mortais cara! Putz! Acho que vão ter que fazer um puxadinho no inferno.
Você sabe dos problemas que eu tive com “ele” né. Primeiro foi a incompreensão daquele senta e levanta. Você lembra, eu era carola, mas sempre perguntei as coisas. A gota d’água foi a dona Maricota, lembra dela! Aquela puta! Eu tinha só nove anos e a mulher não pode responder uma coisinha simples: se minha mãe estiver morrendo e eu tiver que ficar com ela no Domingo, eu posso faltar à missa? Ah! Vai se fuder... dizer pra um moleque de 9 aninhos que ele vai pro inferno se não deixar a mãe no leito da morte é no mínimo “falta de didática”. Primeira comunhão foi pro saco e com ela o restante dos domingos conseguintes... se um dia a mãe vai ficar doente e eu vou ter que ir pro inferno, que eu já vá logo de uma vez né...
Confesso que no caminho fiquei com medo. A gente sempre carrega esse medinho de deus no peito né.. Ateu, graças a Deus, mas se na hora de minha entrada triunfal na igreja “Tchan” as portas se fecham por mágica. Te juro, eu teria um infarto ali mesmo ou sairia correndo e gritando “Deus existe e eu estava errado”... o infarto era mais provável, afinal você sabe, eu sou teimoso e não ia dar o braço a torcer!
Lá dentro, todos reunidos. O Zoreia e a Leuzinha, que o nome impronunciável eu não sei falar até hoje. O Amaral, Pombo, Tobão, Zoin, Duda, Xicó, afinal, toda a turma. Sentei-me (e levantei várias vezes) na frente do Zoreia e sua namorada. Não perdi a chance de dizer “o próximo é você!”.
Uma coisa incrível: o Credo é como andar de bicicleta, você aprende uma vez e nunca esquece. A missa ia rolando e eu tentando compreender o senta e levanta até que o padre fala “chamada a cobra”. Pronto, eu estava pirando. Tentei voltar a cena mentalmente e lembre daquela parte da missa. Palavra da salvação... te juro, era igualzinho a chamada a cobra.
Ia rolar um “pãodequeijocomcoca”... pois é, tu me deve o álcool que eu não bebi naquele dia.