“É uma pessoa sem coração”. Essa frase não diz literalmente nada do que quer dizer quem a profere, mas continuará a ser ouvida ainda no terceiro milênio da Era Cristã. Isso prova que as raízes do passando às vezes são muito profundas.
“A boca fala do que está cheio o coração.” Palavras atribuídas a Jesus. Hoje sabemos que o coração está cheio de sangue, com as contaminações químicas que entram pela boca e pelo nariz, às vezes pela pele. Mas essas palavras não se referiam a esses componentes, podendo serem: “a boca fala do que está cheio o cérebro”. Naquela época, no entanto, não se falava em cérebro; não sabiam que nossos pensamentos e sentimentos estão no cérebro.
“O coração alegre serve de bom remédio”. A sabedoria de Salomão não lhe possibilitou entender que o coração não é o centro das emoções, mas ele já compreendia o efeito do prazer sobre o organismo.
Devido à repercussão que certas emoções têm sobre o ritmo cardíaco, o povo da antiguidade elegeu coração como o centro das emoções.
O tempo passou, e a função cardíaca foi desvendada. Não obstante, permaneceu a figura do coração como a sede do amor. Os apaixonados vivem desenhando corações. Ao mesmo tempo que se atribui ao Diabo a inspiração da cobiça (latim “cupiditia”) da mulher alheia, o inspirador do amor é o Cupido, aquele anjinho pelado atirando flechas que atravessam os corações dos enamorados.
Os nossos sentidos estão no cérebro, porém continuamos como se eles estivessem na nossa bomba biológica, que impulsiona o sangue para levar os nutrientes a todas as partes do corpo. Não estaria errado Moisés ao dizer que “a vida de toda carne é o seu sangue”, pois só através dele o oxigênio e os nutrientes que mantém o corpo vivo podem chegar ao seu destino, e o coração é o motor que os conduz.
O coração não contém sentimento algum, não determina o comportamento e não está cheio do que fala a boca, todavia continua sendo considerado como tal na linguagem popular.